Jorge Vina vem por
meio desta obra, trazer luz para todos os interessados em
agroecologia em específico agroflorestas, onde cria-se uma floresta
onde as plantas nativas se misturam com as plantas alimentícias ou
de alguma outra função, mas que foram introduzidas naquele espaço
pela ação do homem, criando um equilíbrio daquela vegetação e
natureza como um todo.
Através de
pesquisas acadêmicas e dados estatísticos, Jorge mostra a
possibilidade de produzir aliado com a natureza, participando do
ciclo natural que vai do nascimento ao outro nascimento. Mais um
aprendizado imortantíssimo para todos que militam pela preservação
da natureza e que praticam a permacultura.
Segue uma resenha do
livro:
“Essa é a nossa
porta de entrada para o fuuro possível, onde o homem deixe de ser o
sabotador de seu próprio sustento, e incorpore em sua vida diária a
interação otimizada com o ambiente que nos sustenta.”
“Os colonos
italianos que chegaram ao sul do Brasil, em 1885 derrubaram
araucárias (Araucaria angustifolia) de mais de 3m de diâmetro e 45m
de altura, visando o plantio de trigo, cujas sementes trouxeram da
Itália. Na mesma área, relativa (600m2) à copa de uma dessas
árvores que produzia mais de 300kg de pinhões por ano por árvore,
menos de 60kg de trigo eram colhidos.”
“Em substituição
ao papel de 'orquestrador' da Companhia das Índias Ocidentais do
tempo das caravelas, temos os conglomerados madeireiros, o
agribusiness pecuário e seus elos internacionais de mercado. Do
migrante miserável ao alto executivo, a ideologia é de que é uma
'missão' dar uma 'utilidade' aos ecossistemas e 'civilizar' os
indígenas. Maximizar o uso do recurso natural e acumular bens é tão
natural na ideologia dessas regiões como respirar.”
“... as
legislações ambientais vieram sempre após a formalização social
do processo de degradação, e que o povo obedeceu às novas regras
enquanto houve coerção pela força.”
“Teríamos que
incluir citações como 'Maias (765 a.C.)'. Afinal, determinadas
práticas de manejo agroflorestal foram herdadas deles, embora
diferentes pesquisadores tenham se ocupado em relatá-las, e
agricultores contemporâneos ainda as adotem.”
“... não há nada
de errado com o mundo. O que esta errado é a nossa maneira de olhar
para ele.”
“Resumindo, a
análise histórica mostra que, mesmo tendo elementos fortes de
sustentabilidade e adaptação ambiental, os sistemas agrícolas –
os agroecossistemas – sempre foram muito influenciados pela
ideologia dos seguimentos dominantes.”
“Portanto,
encarando de frente a vida que nos envolve, como parte dela que somos
e não como deuses onipotentes...”
“Em suma, não é
o que queremos que as plantas e os animais nos produzam. O que
comanda é o potencial inerente que todo o organismo vivo que
congrega e integra plantas e animais pode produzir, e quais são os
fluxos e ciclos de energia que determinam esta produção.”
“O resultado
global destes preceitos é uma abordagem que procura não como
intervir, mas sim, como não intervir.”
É imprescindível
fazer um “...zoneamento de ambientes favoráveis às culturas que
pretendemos” para não precisarmos alterar muito a natureza e
geografia local.
“... bananeiras
precisam de zonas de umidade constante, boa exposição solar e
matéria orgânica. Isso não é encontrado dentro de uma mata
primária intacta...”
“... Amaranthus
spp. Essa planta cobre bem o solo e é grande recuperadora de
nitratos. Enquanto não competem por luz, a alface e o amaranto são
um consórcio. Quando esta competição se inicia, o manejo de
'capina' é quebrar o amaranto, de modo que os nutrientes que
acumulou sejam recuperados pela alface.”
“Se quiséssemos
aumentar a eficiência energética do sistema, poderíamos ter
introduzido mamão ou outro cultivo apropriado de ciclo médio.”
“Por isso, mais do
que nunca, é preciso entrar na mata, andar, tocar, observar e
senti-la como que verdadeiramente é, ou seja, um organismo vivo e
auto-regulado.”
“... quanto maior
o conhecimento do histórico do local, maior será a quantidade de
informações que um indicador biológico poderá fornecer.”
“... a análise
das interações entre radiação, umidade e nutrientes. Essas
interações determinam as características básicas da fauna e da
flora.”
“ Quanto mais
perto dos pólos, mais crítico é o fator radiação, através da
redução de luz e calor.”
“Também aliada à
umidade alta, a sombra não ajuda muito secadores solares, plantios
de determinadas culturas anuais e determinadas fases de frutíferas,
como a floração.”
“... o encontro
entre o reducionismo e o holismo, entre o saber popular e o saber
acadêmico é o caminho para se chegar a um conhecimento real dos
ambientes.”
“para conhecer a
natureza, devemos prestar mais atenção às formas do que ao
conteúdo”.
“Quando falamos da
dinâmica da sucessão natural de espécies, citamos a palavra
'consórcios' e 'consórcios dominantes' algumas vezes. Na verdade,
não se trata apenas de uma sucessão de espécies, mas sim de uma
sucessão de consórcios de espécies. … um consorcio de seres
vivos, do nivel micro ao macro.”
“Na sequência, os
cipós deslocam-se para o alto das árvores, criando uma teia de
amarração que ajuda a vegetação a resistir aos vendavais e
ciclones.”
“Áreas
abandonadas há mais de 8 anos e que sustentam apenas samambaias e
arbustos pioneiros indicam como histórico uma ação antropogênica
intensa, com fogo e pastoreio... embaúbas... uma derrubada seguida
de fogo com posterior abandono... solos mais férteis e úmidos...
embaúba branca... embaúba vermelha... solos mais fracos.”
“... nem todas as
espécies tolerarão podas anuais, mas sim deverão ser avaliadas em
função da recuperação que apresentarem.”
“...a podação
seletiva de indivíduos causa uma transferência progressiva da
biomassa ( e consequentemente dos nutrientes) armazenados na
vegetação para o solo.”
“Este é um
pricípio que orienta as roças indígenas...”
“Embaúbas(Cecropia
spp)... certa habilidade de rebrote enquanto juvenis e adultas.
Mundururús (Melastomataceae) já são menos hábeis no rebrote...
Capiangas têm grande capacidade de rebrote, assim como o Fumo-Bravo
(Solanaceae)... jurubeba (Solanaceae), a candeia (conhecida como
'vassourinha' no sul do Brasil, família Compositae) são hábeis no
rebrote...”
“Resumindo, o
comportamento das espécies é o resultado de uma interação entre o
nicho que ocupam na sucessão, e fatores de nutrientes, umidade e
radiação.”
“Na Mata Tropical
Úmida, quando há a ausência de um período seco previsível, o
final da época dos vendavais é propícia para o manejo de áreas de
mata secundária madura e mata primária...”
O manejo no período
de chuvas “propicia a entrada de radiação e nutrientes numa época
onde esses fatores poderiam limitar o crescimento das espécies
introduzidas.”
“Em outras
palavras, o produtor pode receber de 10 a 100 vezes menos do que o
consumidor paga pelo mesmo produto.”
“Queremos conhecer
profundamente populações e ambientes e desvendar a lógica dos
sistemas, de modo a deixá-los mais afinados com os ambientes, o que
pode vir a torná-los economicamente eficientes, ambientalmente
sustentáveis e socialmente benéficos.”
Em terrenos como os
latossolos da Mata Atlântica, qual é a agricultura que podemos
praticar? “Cultivos sucessivos e consorciados que mantêm o solo
coberto; rotações de cultivos com espécies ferilizadoras,
introduzidas ou nativas; convivência dos cultivos com plantas
nativas...”
“ ...numa área
menos exposta à radiação, algumas culturas, como o feijão e o
milho, podem ter dificuldades ou diminuição de produtividade.”
“Radiação. Uma
exposição voltada para o noroeste aumenta significativamente a
quantidade de energia radiante recebida, principalmente, em áreas
declivosas.”
“Para o agricultor
que planta, maneja e colhe em um sistema agroflorestal, dois fluxos
são básicos: quantificar entradas e saídas, relacionadas a volume,
data e natureza da atividade ou produto. Esse tipo de anotação
primária permitirá traçar um perfil de consumo de capital,
mão-de-obra e insumos, bem como de produtos obtidos ao longo do
tempo.”
“A grande
dificuldade é analisar o desempenho dos produtos item por item, uma
vez que os insumos, manutenção e mão-de-obra afetam praticamente
todo o sistema, não importando se ele será colhido em 3 meses ou 30
anos. De qualquer modo, os retornos proporcionados pelos produtos de
curto e médio prazo podem ser relativizados aos custos integrais do
sistema no período, o que dá uma relação custo/benefício do
produto em relação ao sistema como um todo.”
“Não sabemos ao
certo quem está derrubando nossas florestas e nem quem vai alagar
nossas terras, mas sabemos que moram em cidades, onde os ricos estão
ficando mais ricos, e nós os pobres estamos perdendo o pouco que
temos”.
“...o tamanho
ideal de cada mutirão era o que possibilitava que cada propriedade
fosse visitada uma vez por mês. Todas as segundas... quatro famílias
de agricultores...”
E suma, o livro traz
a reflexão sobre produzir alimentos, madeira com equilíbrio e em
conjunto com a natureza. E nos lembra que somos parte dessa natureza,
fazemos parte dessa energia maior que rege toda a vida no universo.
Nesse aspecto, não somos nem maiores nem menores que os outros seres
vivos.