Tocando por uma causa nobre
Eusébio era um homem simples, criado no interior do Tocantins sempre foi um homem direto, honesto e transparente. Era amigo de todos, uma pessoa da paz, sempre querido pelos seus conterrâneos. Casou com Maria das Dores e teve 4 filhos, dois homens e duas mulheres. Além da sua família, sua grande paixão era a música. Exímio violonista, aprendeu a tocar com um amigo de seu pai, e desde criança criou amor pelo instrumento e até então não se imaginava sem o violão. Gostava de música popular brasileira, guitarradas, dentre outros sons do norte do Brasil, e passava tardes nas casas de amigos tocando e compondo músicas.
Além das muitas apresentações musicais, das quais tirava seu ganha pão, ele dava algumas aulas de violão pra complementar a renda. Ser músico profissional nesses dias não era nada fácil, raro eram as pessoas que viviam da música. Mas para Eusébio isso não era motivo pra desamimar. Seu sonho era aquele, viver de sua paixão. E ele pensava, analisando suas prioridades de vida, que se fosse pra viver com pouco e ser feliz ele preferiria mil vezes a simplicidade. Afinal, pra que servem os luxos sem a felicidade?
Criava umas 10 galinhas no terreiro, além de cuidar de seu pequeno pomar. Nas poucas vezes que foi pra cidade grande, já logo queria estar de volta ao seu querido interior, onde ouve-se os passarinhos ao invés de buzinas de carro e moto, contempla-se flores coloridas ao invés de avenidas em marginais cinzas, paredes pichadas, onde respira-se ar puro e come-se alimentos sem veneno. O que mais lhe intrigava era ver um monte de gente vivendo um em cima do outro, engaiolados, sem tocar na terra de seu quintal e que utilizavam de grandes caixas metálicas que subiam e desciam mecanicamente transportando esses infelizes. Ele nem gostava de entrar nessas habitações. Era uma coisa muito esquisita.
Certo dia, Zé Miguel chamou Eusébio e contou que tinha plano de ajudar uma Organização Não Governamental que cuidava de crianças especiais, explicou como funcionava o trabalho daquele pessoal e toda a ajuda que eles representavam para a região. Tinha muitas pessoas que não sabiam que fariam com seus filhos, por falta de instrução e dinheiro, e essa instituição ajudava com escola, alimento, acompanhamento médico, e muitos outros tipos de apoio. Eusébio ficou maravilhado com a prestatividade daquelas pessoas. Zé Miguel convidou ele para participar do projeto, onde eles fariam um show pra arrecadar dinheiro pra Instituição.
O show foi feito, encheu, e no dia seguinte eles foram lá na ONG levar o dinheiro. A diretoria ficou muito feliz com a ajuda e pediu que eles fossem apresentados às crianças. Eles iriam fazer uma pequena apresentação para todos ali. Prepararam os instrumentos, o som, se ajeitaram e Zé Miguel pegou o microfone e se apresentou:
-É com muita satisfação que venho aqui tocar música para vocês. Sou Zé Miguel, percussionista e amigo de vocês. Obrigado.
Eusébio estava faceiro, sorridente, orgulhoso. Aí foi a vez dele de falar:
-Eu sou o Eusébio, toco violão, e é um grande prazer estar aqui e tocar pros mongoloides, pessoal tão legal.
Alguns riram, outros ficaram assustados, outros calados. E o show foi um sucesso.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
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