Todo dia é dia de transformação, a vida não é estática e por
isso devemos nos permitir mudar, evoluir, pedir perdão. Neilton estava
aprendendo a ter ideias novas, quebrando tabus, praticando mais ações de amor
ao próximo. Havia momentos de incômodo, de incertezas, de falta de estabilidade
espiritual; mas ele percebeu que mudanças não são fáceis, mas são necessárias.
Tudo muda, e nós não podemos ficar de fora.
Seus amigos da faculdade, pessoal boa gente, que além de bem
informados e inteligentes eram de um coração enorme, não havia dúvidas de que
se alguém deveria ser ouvido, eram essas grandes personalidades. Eles eram
simpáticos da permacultura, da reciclagem, dos movimentos sociais, do apoio às
minorias e marginalizados, eram pessoas do bem. E Neilton aprendeu com eles a
realizar a coleta seletiva dos resíduos domésticos, vulgo lixo.
Neilton entendeu que a reciclagem era algo necessário, que o
nosso planeta não aguentaria tanto consumismo, tanto plástico, tanto vidro e
outros materiais não naturais, que demoram séculos pra se decompor na natureza.
Poucos eram os interessados em saber o que ocorria nos aterros sanitários,
também conhecidos como lixões. Pra onde vai tanto material? Como é tratado esse
material?
No começo é difícil separar todo o lixo, memorizar os dias e
lugares certos de deixar o lixo reciclável. Mas com persistência ele foi se
acostumando, logo ele se tornou uma pessoa muito preocupada com o processo de
reciclagem. Chegava a pregar as boas novas para os amigos que ainda não sabiam
ou eram relaxados. Às vezes ele era até chato.
Numa terça feira ele estava em casa e ainda não havia
passado o caminhão que recolhia os recicláveis, deveria ter passado no dia
anterior e ainda nada. Neilton pensou em ligar para o departamento da
prefeitura que era responsável pelo recolhimento, mas na hora deu aquela
vontade louca de ir ao banheiro dar uma barrigada. E eis que ele ouve o barulho
do outro caminhão, o de lixo comum, se aproximando de sua casa. Sem pensar duas
vezes ele começa a gritar: “Espera! Espera!”. Ele percebeu que os funcionários
não iriam esperar e saiu correndo atrás, nu, cagado. Deu aquela última limpada
com papel higiênico já no corredor, na área externa da casa, enfiou na
sacolinha e entregou orgulhoso para o lixeiro que assistiu aquilo tudo chocado.
Não se conteve e ainda perguntou: “ainda hoje passa o caminhão dos recicláveis?”