terça-feira, 16 de outubro de 2012

Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande


Os Azande são uma tribo africana que foi estudada pelo antropólogo Evans-Pritchard em fins da década de 1920. Ele focou sua etnografia na bruxaria, adivinhação, magia e o uso de plantas alucinógenas entre esse povo.
A noção de bruxaria entre os Azande é mais ligada ao medo de pessoas poderosas, e de adivinhos que supostamente desejariam seu mal, lançando uma bruxaria para essa pessoa ou familiares, no Brasil também conhecido como “mal olhado”. Os infortúnios que ocorrem entre eles geralmente são ligados à essas palavra. E são acusados os ditos bruxos, que são julgados pelos oráculos através do uso de “benge”, um veneno em que as chances das aves que o ingeriram sobreviverem ou morrerem é de 50 por cento. Ou seja, se a ave morre o acusado pode ser ou não bruxo “de fato”. Antes da invasão branca o oráculo de veneno foi utilizado pelo príncipe da nação Zande em homens, aos poucos foi transferida essa responsabilidade para as aves. Muitas outras decisões importantes na comunidade são tomadas através da consulta aos oráculos.
Os Azande afirmam que todo bruxo tem uma “substância bruxaria” junto ao seu intestino, e quando matam o bruxo, eles tem que abrir o morto e mostrar a substância para provar a veracidade da acusação.
Interessante notar que Evans-Pritchard teve uma experiência real com a bruxaria. Ele saiu de sua cabana e foi no mato urinar e viu a bruxaria. Como os azande descrevem-na ela é como uma luz que sai do bruxo e vai até a pessoa afetada. Ele relata em sua obra, que viu com seus próprios olhos a bruxaria aquela noite.
Os azandes utilizam plantas alucinógenas em suas magias para variados fins, geralmente eles pedem para as plantas intercederem por eles com relação às forças da natureza (ex. para evitar que a chuva caia), à agricultura (ex. fecundidade de plantas alimentícias), à caça, pesca e coleta (ex. Benzer armadilhas e laços), à artes e ofícios (ex. Fundição de metal), aos poderes místicos (ex. Contra bruxos e feiticeiros), à atividades sociais (ex. obter esposa) e à doença (cada doença possui uma planta apropriada ao seu tratamento).
Muito interessante o relato de acompanhamento de um treinamento de um noviço na arte da adivinhação.
Existe algo neste livro de similar aos relatos de Carlos Castañeda na sua experiência com o feiticeiro Yaqui, Dom Juan. Favret Saada descreve esse tipo de etnografia como “ser afetado” pela cultura do povo estudado. Vivenciar e sentir o que eles sentem.
Seria tudo uma questão psicológica? A realidade, apenas um momento, num determinado local com determinadas pessoas?