terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Viajando de Fusca para Montevideo, partindo de Florianópolis

Era início de 2007 quando resolvemos viajar para o Uruguay entre três amigos num fusca 1967.
Tinha juntado uma grana ao longo dos anos e pretendia gastar ja que estava formado, e dali pra frente ganharia bem e não importaria com a quantia, pensei: vou fazer uma aventura de despedida da vida de boemia. hehehe
Um dos amigos, o Edson, tinha um carro mas mesmo assim incentivou a viagem de fusca. Decidimos que seria mais barato o prejuízo do fusca do que do outro. E acordamos em dividir as despesas do fusca durante o trajeto. O trajeto seria pausado, não dirigiríamos por muitas horas seguidas e aproveitaríamos pra conhecer cidades do sul do Brasil.
Na primeira estrada que pegamos ja deu problema: com o vácuo da carreta que vinha na mão oposta, a minha prancha recém comprada voou levando os "racks" junto pra debaixo do caminhão que vinha atrás, e que virou pastel no mesmo momento. Por sorte não havia nenhum motoqueiro atrás. Doei a prancha pra um surfista e morador local. Depois ocorreu um problema no carro e tivemos que parar num posto as pressas para "tirar o ar do freio". Porém a viagem sempre contava com um ambiente descontraído entre amigos, no som sempre um bom reggae ou rock.
A primeira cidade em que paramos foi Garopaba, pela qual senti uma simpatia muito grande. Nos hospedamos na praia da ferrugem, que é afastada e fora de temporada diminui drasticamente sua população. Não era o nosso caso. Era alta temporada e tinha muitos turistas, inclusive, muitos malucos de BR. Fizemos trilhas, curtimos shows de reggae e fomos picados por mosquitos. hehehe
Depois de dois dias nos chalés, seguimos viagem e fomos em direção de Torres, Rio Grande do Sul. Em torres, conhecemos a cidade, a praia, a "noite" da cidade, fizemos trilha... Cidade muito bonita, pessoas bonitas, educadas, teve azarações e cantadas de homens gays ou bissexuais, o que na minha opinião foi lamentável. Depois de dois dias no camping, seguimos viagem para Porto Alegre e na Freeway o fusca começou a ter outro problema. O desgraçado do antigo proprietário tinha desmontado o motor e quando remontou não colocou todos os parafusos e o motor estava solto. Resultado: o fusca não passava de sessenta quilômetros por hora. hehehe
Nos hospedamos em um hotel e conhecemos a cidade, andamos pelas ruas, conhecemos museus, praças, parques, bares... Simpatizamos com as gaúchas, principalmente, que desde o início nos recepcionaram muito bem. Arrumamos o fusca e depois de dois dias hospedados em um bom hotel seguimos em direção a praia do cassino, localizada perto de Rio Grande.
A praia do cassino é atravessada por carros que percorrem quilômetros pelas areias praianas. Quando ficamos por lá, percebemos que havia muitas famílias. É um vilarejo, cidade pequena de veraneio. Passamos uma noite e decidimos partir Rumo ao Chuí. Um episódio interessante desse período foi que conhecemos dois camaradas que estavam indo para o Uruguay também, só que de carona. Enquanto trocávamos idéias fomos surpreendidos pela guarda local que nos revistou. Fui revistado rigidamente por uma policial feminina, que sorriu ao perceber que éramos pessoas do bem.
Quando amanheceu o dia, decidimos pegar a estrada mas aquele dia parecia não estar ao nosso favor. Quando dava ré no fusca em um posto, um ignorante de carros antigos atravessou minha traseira e bateu em nosso carro. Ele ignorava que o carro não possuía sinal de ré. Depois de discutir inutilmente, cada um partiu para seu lado e depois de 2 dias no camping partimos rumo ao Chuí. Sempre apertados de grana, gastando somente na medida do possível, não enchemos o tanque esperançosos que a frente haveria combustível mais em conta. Fomos em direção a reserva do Chuí onde depois de duzentos quilômetros sem ver posto, ficamos parado a beira da estrada por falta de gasolina. Arranjamos galão e fui pedir carona na estrada.
Depois de muito tempo consegui carona com moço que tinha a mesma faixa de idade e estava transportando toras de madeira em sua carreta. Depois de umas 3 a 4 horas cheguei de volta a Rio Grande onde enchi o galão e fui buscar carona com quem voltar. Depois de algumas horas consegui com a ajuda de uma comerciante carona com outro caminhoneiro. O caminhoneiro me contou histórias de viagens para o Uruguay, e de como as coisas eram por lá. Perguntei sobre cidades praianas e ele me aconselhou La Paloma, como cidade frequentada por muitos jovens.
Quando chegamos ao fusca havia outro problema: o pneu estava murcho. Depois de horas tentando manipular aquele aparelho arcaico conseguimos levantar o carro e trocar o pneu. Andamos mais alguns quilômetros, abastecemos e quando anoiteceu ocorreu o pior: estourou o step. hehehe
Por nossa sorte achamos um posto em seguida e ja entramos dentro. Lá não podia acampar, mas como não havia borracheiro no momento na borracharia, não havia outra alternativa a não ser dormir lá aquela noite. Armamos a barraca, fizemos fogueira, comemos, conversamos, cantamos... O que podia ser um pesadelo, tornou-se um momento prazeroso.
No dia seguinte bem cedo, levantamos acampamento e fomos conversar com o borracheiro, que prontamente arrumou nosso pneu e nosso step. Mais trade nos lembramos desse personagem. Chegamos no Chuí e percebemos que o fusca estava perdendo muito óleo e que faltava um rejunte. Em poucas horas resolvemos o problema. Partimos para fronteira onde fizemos nosso seguro, almoçamos e conhecemos a cidade que mais tarde compraríamos bugigangas.
Partimos rumo a Republica Oriental del Uruguay e fomos abordados pela aduana. Para nosso espanto, Juliano não havia trazido seu RG, documento necessário para entrar nos países do Mercosul. Agora ou ele ficava no Brasil ou "conversava" com as autoridades estrangeiras.
Depois de solucionada a questão e com algum dinheiro a menos no bolso, partimos para La Paloma. As estradas eram bonitas, simples, mas bem cuidadas. Começamos a utilizar nossos pesos e cartões de crédito. Antes de chegar em La Paloma ao entardecer, estoura outro pneu.
estávamos perto de uma ponte de passagem única e apertados no canto da estrada com muita dificuldade conseguimos trocar o pneu. Chegamos finalmente a La Paloma e gostamos muito da energia do local. Havia campings enormes cheios de jovens acampados passando o verão, que aliás estava ótimo aquele ano. Conseguimos vaga em um super camping onde passamos três noites, conhecemos pessoas, aproveitamos belos dias de sol junto a praia, comemos comidas típicas, experimentamos vinhos, cervejas, fomos em bares e danceterias. Quando estávamos armando as barracas, Edson insistentemente pediu para que chegasse mais perto do local escolhido para retirar as coisas, mas como havia advertido, o terreno arenoso fez com que o fusca atolasse e mais tarde só foi removido com trator já que o cabo do acelerador havia estourado nas tentativas frustradas de sair do atoleiro. No último dia conseguimos instalar um novo cabo de acelerador no carro e consertar o pneu estourado. O velho borracheiro nos advertiu que o borracheiro de Chuí tinha trapaceado e posto uma câmera menor em nosso pneu e que seria inevitável o que aconteceu. Meus colegas conheceram o pancho (cachorro quente uruguayo), e conhecemos juntos as baladas locais, movidas a cerveja e muita dança regional.
Desde o início fomos bem recebidos por nossas vizinhas "uruguayas", que se mostraram bem interessadas.
Decidimos partir para Montevideo onde tentaríamos encontrar meu amigo Juan Carlos que havia conhecido no ano anterior, quando passei um mês na capital uruguaia praticando o espanhol. Pegamos boas rodovias e chegamos a noite em Montevideo e decidimos dormir no albergue aquela noite. Passeamos e fomos na casa de Juan. Ele estava lá e depois de conversarmos, ele nos convidou pra dormir lá. O porão de Juan ainda estava em reforma mas deu pra passar 3 noites. Conhecemos a cidade, parques, praia, acompanhamos os desfiles de carnaval, comemos "parrillada", tomamos vinho, fomos na feira de rua, conhecemos a noite, a banda do Juan. Aconteceu de termos de trocar outro pneu do fusca e que interessantemente era sempre o da mesma posição.
Depois de alguns dias conhecendo a cidade decidimos fazer o caminho de volta.
Fomos em direção a Punta del Leste, onde decidiríamos dormir ou não. Chegamos a tarde e decidimos conhecer um dos shoppings da cidade onde também havia um belo cassino. Jogamos um pouco nos caça-níqueis e perdemos tudo. hehehe Como Punta del Leste é uma cidade reservada a turismo de classe alta e tudo parecia caro, decidimos partir para Punta del Diablo, cidade litorânea indicada por Juan e seus amigos.
Fomos pegar um atalho e acabamos numa estrada de terra de uns vinte quilômetros. Chegando na cidade fomos buscar onde ficar e comida. Lá era tudo muito alternativo, as construções eram toscas e simples. Um clima jovial e pacífico reinava por ali. Dormimos uma noite em um casebre que dava até medo. hehehe Era praticamente uma barraca de madeira erguida do chão com telhado de palha. Os dias eram ensolarados e a água do mar estava boa para banho. Ali se encontravam jovens uruguaios que possuíam uma filosofia estilo hippie de vida. Se reuniam em grupos a noite, bebiam vinho e fumavam. Eu e Edson deixamos Juliano no acampamento, pois ele tinha hábitos mais diurnos que noturnos e por isso dormia cedo. Seguimos para uma das festas locais, onde encontramos uma "boate" que era aberta ao público e tocava musicas locais, alguns rocks, reggaes... Um clima cordial reinava por ali.
Pela manhã partimos rumo ao Brasil. Queríamos dormir em São Lourenço do Sul, Rio Grande do Sul, cidade localizada a beira da lagoa dos patos, que não conhecia até então. Ficamos algumas horas em Chuí, o necessário para fazer umas compras. Compramos cartas de baralho espanhol, absinto, tabaco uruguaio, entre outras coisas. Chegamos em São Lourenço do Sul e nos instalamos num chalé perto da lagoa. A lagoa é enorme, parece mar. Jantamos em um restaurante bom e como era caro não queríamos pagar, eu e Edson fugimos primeiro e deixamos Juliano pra trás. Ele não resistiu a consciência e decidiu pagar por todos nós. hehehe
No outro dia passeamos pela cidade que não era muito grande e que concentrava mais famílias gaúchas. Sem ter muito o que fazer, seguimos viagem no outro dia pela manhã até a cidade de Guaíba-RS onde percorremos a orla do rio Guaíba e Edson insistia em passarmos a noite em uma balada da cidade. Antes tivéssemos passado. Eu fiquei contrariado com aquela ideia e fui para o fusca com a intenção de ir dormir em algum posto antes da Porto Alegre. Pegamos um caminho que foi parar diretamente dentro de Porto Alegre e que só conseguimos achar posto de beira de estrada na Free Way. Resultado: o gerente do posto não queria deixarnos dormir ali, somente dentro do carro, se quiséssemos. Como não cabíamos os três dentro do fusca, decidimos armar acampamento assim mesmo, no que fomos posteriormente alertados pelo segurança e tivemos que sair em meio a chuva para arma-la fora do terreno do posto, quase na beira da estrada. Como estava cansado, não quis nem saber. O problema é que até ali não tínhamos testado a capacidade impermeável de nossas barracas, que naquela noite criou goteiras geladas ao nosso lado quando dormíamos. Não aguentei aquilo por muito tempo e quando foi bem cedo levantamos acampamento e fomos em direção a Florianópolis.
Perto de Criciúma tivemos que parar o fusca pois estava cheirando bateria forte e mal sabíamos que aquele modelo precisava de água. Brincávamos que a bateria estouraria na bunda do Juliano, já que ele ia no banco de trás em cima do mesmo. hehehe
Depois da água colocada, partimos para Floripa e quando estávamos próximo a Garopaba, uma carreta jogou uma pedrinha no pára-brisa do fusca o que o fez estilhaçar e nos assustou muito. Paramos numa borracharia de beira de estrada e tiramos os vidros de dentro do carro e seguimos viagem felizes por não ter acontecido nada conosco. Ficamos alguns dias na casa em que o Juliano morava com mais dois colegas, localizado na Praia do Morro das Pedras, Sul da ilha. Foram belos momentos de surfe e sociais alternativos naquela casa, em um tempo que não volta mais.  

Relato de viagem à aldeia Carajá, Mato Grosso

A viagem ocorreu ja faz um tempo: vivíamos em Maringá no ano de 2002 e estudávamos no IAP, um internato misto religioso. Conhecemos o filho do Cacique da tribo Carajá dos altos do rio Araguaia, o Hioló. Ele também tinha uma irmã que estudava conosco no internato,chamava-se Narúbia. O Hioló era um rapaz simpático que tinha amor pela tribo e pela cultura carajá e tinha vontade de se formar médico para ajudar sua tribo, além de ser cacique, como a cultura hereditária manda.
Era férias de junho e resolvemos passar uns dias na tribo. Para mim que saí de Campo Grande-MS foi uma viagem longa: quase 40 horas de viagem até o nordeste do Mato Grosso, divisa com Tocantins.
Os outros amigos Ricardo e Harvey vieram do nordeste brasileiro, cortando Brasil adentro com intenção de chegar a São Félix do Araguaia-MT. Chegaram a dormir na rodoviária de uma cidade interiorana do Tocantins.
Outra aventura interessante foi o fato de pagar dois mototaxis para atravessar uma mata através de uma picada que era apontada como estrada alternativa na época da seca, já que na época de chuvas ficava submersa. Os motoqueiros guardaram seus revolveres na cintura e tiveram que usar mais tarde matando jacarés na atravessia de um rio sem ponte.
Tive um companheiro de poltronas que me contou histórias variadas sobre a região, casos com adolescentes, era um gaúcho que vinha do sul pra passar uns tempos pela região.
Chegando lá fiquei numa casa de uma senhora amiga do cacique Werreriá. No outro dia fui até a sede da Funai onde esperei até o momento que Hioló chegou e subimos o rio de voadeira. Mais de duas horas de viagem.
Aprendi a primeira lição aquele dia: índio não tem noção de tempo como os brancos. É manhã, tarde e noite. Não existe horas. E são bem tranquilos também.
João Werreriá morava numa vila próxima da tribo e sua família vivia numa casa boa. Fomos pescar, fomos na cidade andar a toa, passamos alguns dias na tribo, fomos pintados pelas índias.Pinturas com uma tintura natural de plantas do norte brasileiro.
Na pescaria, pude perceber como os índios não aceitavam pescar piranha: retiravam o anzol e jogavam o peixe de volta ao lago, onde além delas tinha jacarés e cobras. Assamos os peixes a moda indígena, na beira do lago numa fogueira sobre uma grelha improvisadas com gravetos retirados da mata que nos cercava. Um episódio interessante foi termos carregado nosso amigo Ricardo nas costas pela trilha até o lago e depois de volta até o rio Araguaia. Foi o "revesamento de ricardo". Ele tinha pulado no rio e foi justamente em cima de um barranco dentro do Araguaia, onde se machucou.
Conhecemos os locais (ribeirinhos da região), fomos em festas na beira do rio, eram os "festivais de praias" onde tinha música sertaneja e forró. Eu tinha aprendido a dançar forró a pouco tempo e já pude praticar com as mato grossenses.
A volta para o Sul do Brasil foi emocionante. Queríamos chegar em Maringá de carona. Fomos pra São Félix do Araguaia e nos dirigimos ao posto de gasolina para pedirmos carona aos viajantes. Pegamos carona com uma camioneta ate uma cidade a 200km dali. A BR não era asfaltada e o pó subia. Passamos por dentro de um rio porque a ponte tinha quebrado. Ficamos o dia inteiro parados num posto da cidade até que decidimos pegar um ônibus até a cidade maior mais próxima. Na viagem decidimos dormir e não descer em nosso destino andando uns 400km de graça. Ficamos umas 5 horas parados em Água Boa, tomamos banho num posto, almoçamos e pegamos um ônibus até Goiânia onde encontramos nosso amigo Serginho, que tinha estudado com a gente, e morado em nosso quarto no IAP. Ficamos na casa dele, conversamos bastante e nos dirigimos na manhã seguinte pra rodoviária onde pegamos um ônibus para Maringá. Chegamos em Maringá de madrugada e tivemos que dormir umas 4 horas lá pra poder pegar o ônibus para Floresta na manhã seguinte. E assim terminou nossa aventura.