Era um dia ensolarado, daqueles dias bem bonitos, com o céu
azul e poucas nuvens brancas e bem definidas. Tanto João como Antônio estavam
bem animados com relação a festinha que eles queriam fazer naquela noite.
Convidaram os amigos mais íntimos, o pessoal da faculdade, outros do partido
político e queriam mesmo que não fossem tantas pessoas. Festa íntima era bem
mais bacana. Seria apenas uma moagem, umas cervejas com um sonzinho que iria
variar entre violão e aparelho de som. A casa que moravam de aluguel não era
muito grande, mas era aconchegante.
Antônio estava empolgado e chegou a confessar à João que
estava com sede, queria beber mesmo, encher a cara. Ele não era de beber com
frequência, mas quando bebia queria ficar doido, achava besteira beber e não
ficar bêbado. Afinal já que álcool faz mal, tem que valer a pena a bebedeira.
A hora chegou, os convidados chegaram aos poucos, todos
alegres brindavam à amizade, ao amor e aos sonhos da juventude. Conversaram
sobre política, comunismo, socialismo, preservação do meio ambiente. Depois de
algumas garrafas de cerveja já se ouviam oratórias acaloradas, de poesias a reflexões
filosóficas entre uma piada e outra e muitas risadas. Haviam homens e mulheres
em um número equilibrado entre os sexos. Alguns não se conheciam, pois haviam
amigos de João e de Antônio.
Antônio tinha um amigo que sempre falava pra ele sobre um
método de conquista, que seria a última cartada do conquistador antes da
desistência. Esse método, que ele chamava de método garli, consistia em mostrar
o pênis para a mulher na esperança que ela pegasse. Esse amigo garantia que
funcionava. E Antônio ria, sem dar confiança naquela conversa que lhe parecia
bem fiada.
Depois de todos alcoolizados, Antônio já estava soltinho,
conversava de tudo sempre com um baita sorriso na cara. E ele iniciou uma
paquera com uma convidada que ele não conhecia. No alto da madrugada, já cansado
de dar investidas em vão, já trôpego pelo álcool, ele não pensou duas vezes, na
presença de João e uma garota, ele disse a frase de ordem “basta!” e abaixou as
calças, convicto e seguro que a garota adoraria o ato. Os dois amigos vendo
aquela situação do rapaz sem calças com seu membro ereto, se mandaram. A nova
barbárie entrava em funcionamento. As profecias do sociólogo Adorno se tornavam
realidade.
Agora você se pergunta: e a moça? Bem, a vítima para o espanto
de todos gostou da atitude anárquica de Antônio, achou corajosa sua posição,
admirou sua convicção e finalmente pegou lá. Foram para o quarto onde foram
vistos por alguns convidados homens e mulheres desavisados que procuravam não
sei o que. Como se não bastasse a ousadia, Antônio foi na cozinha buscar mais
um trago sem calças, militando o nudismo como forma de protesto. Era um excesso
de desapego, uma liberdade sem pudores. João tentou conscientiza-lo, tentando
trazê-lo de volta à realidade de nossa sociedade pudica. Ele voltou para o
quarto.
Na manhã seguinte acordou na cama com a moça, assustado
pegou suas coisas e foi embora. Não lembrava de nada e só ficou sabendo o que
ocorreu no final do dia, quando João lhe contou. Sim, ele havia ultrapassado os
limites da libertinagem.