Roberto era um homem de meia idade, que vivia no interior de
São Paulo. Gostava daquela vida pacata, e era um grande admirador da boa
conduta. Ele ficava vermelho de raiva perante injustiças e desrespeitos, mesmo
sendo alheio.
Seu casamento era harmonioso, sua esposa o admirava muito, o
respeitava muito, e o amava de corpo e alma. Ela nunca se esquecia do primeiro
encontro entre os dois, quando eles se conheceram. Já haviam passado dez anos,
mas para ela era como se tivesse sido horas atrás tamanha a paixão que nutria por
aquele homem. O casal ainda não possuía filhos. Camila, mulher de Roberto, não
podia ter filhos.
Em sua farmácia, Roberto se dedicava além do necessário por
manter tudo transparente com seus clientes, fornecedores e funcionários. Tinha
terror à desonestidade, e só de imaginar pessoas querendo lhe passar a perna, já
tinha vontade de matar. Afinal, ele que era um cara honesto não merecia nem de
longe ser sacaneado.
A sua contabilidade era metódica e exaustiva, não deixava
passar nem uma vírgula, nem um centavo se quer. Fazia questão de pagar os
impostos, todos, um à um, mesmo que as vezes lhe parecesse injusto que o
governo ganhasse mais que ele, que estava trabalhando ali. Mas Deus que está no
céu haveria de fazer justiça com os poderosos com os quais não podia medir
força, mas em seu íntimo Roberto pensava: “o que está a meu alcance, pode
deixar que eu resolvo!”
Conversava sobre um golpe que tinha tomado no comércio, com
um amigo enquanto almoçavam juntos no restaurante:
- Juvenal, eu não tenho paciência com sem-vergonha. Tenho
muita vontade de dar uma lição nesse pessoal que não respeita as pessoas, nesse
povo que não tem educação, nem senso de coletividade.
- Calma Roberto, você é um cara muito nervoso, tem que se
acalmar, você não vai conseguir pôr ordem sozinho no mundo. Só Deus pra fazer
justiça na Terra.
- Ah mas comigo não é bem assim, vagabundo comigo não se
cria! Logo vocês vão ter uma surpresa.
Juvenal constrangido com a alteração do amigo em público,
preferiu não falar mais nada e só desejava não estar perto na hora em que a
bomba explodisse. E um dia explodiu.
Em uma segunda-feira quando voltava pra casa depois de um
expediente cansativo, parou seu carro no sinal de trânsito. Atrás dele vinha um
carro rebaixado e com som alto, tocando músicas eletrônicas. E o motorista
acelerava e dava sinais de luz alta pra ele. Roberto primeiramente pensou que
aquilo poderia ter sido um engano do motorista, mas como voltou a acontecer ele
não teve mais dúvidas, percebeu que se tratava de um canalha, daqueles sacanas
que são pragas para a sociedade.
Roberto fez que não era com ele e seguiu caminho, depois que
o sinal abriu. E como era bairro residencial, manteve a velocidade baixa, situação
que o que cidadão que estava no carro detrás não queria se enquadrar, nem
respeitar. O animal continuava dando sinal e até buzinando. Roberto não
aguentou.
Num surto de raiva ele sai do carro e parte pra cima do motorista
que vinha atrás. O rapazola que tinha seus 25 anos, quis bater boca, chamou
Roberto de “coroa lerdo”, no que Roberto arranca sua própria cinta de couro e
começa a dar no infeliz. Foi uma surra daquelas de início de adolescência,
daquelas que já não se vê mais em nossos dias, e que alguns antigos sentem não
existirem mais.
O jovem rebelde chorou como criança, e enquanto Roberto
assumia o papel que os pais dele não tinham realizado com eficiência, dizia em
bom som frases de ordem como: “nunca mais vai desrespeitar os outros, seu
sem-vergonha”, “apanha porque quer, se se comportasse não precisaria passar por
isso” e “isso é pra aprender!”
As pessoas na rua não sabiam se aplaudiam ou se corriam de
medo. Umas admiravam, outras se horrorizavam. E assim conheceram o novo herói
brasileiro: Roberto, o educador.
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