segunda-feira, 30 de março de 2015

A canalhice

Marcelo e Ricardo eram bons amigos, se conheceram na universidade. Ambos estudavam ciências humanas, tentavam desvendar os grandes enigmas da humanidade. Passaram-se anos de universidade, muitas tardes e noites no bar, festas e mulheres. Marcelo era atrevido, bom de oratória, desenrolava bem as palavras e conseguia ganhar muitos no papo. Ele ja vinha de uma família politizada, comunista, e ja sabia quase de cor toda a história do comunismo, e se fazia de tipo revolucionário. Só se fosse de escritório. Ricardo já não possuía a melhor das oratórias, mas as mulheres se apaixonavam pelo seu estilo "velho de buteco", usando barba e sempre vestindo shorts, camisa social de manga curta, chinelo e pochete. Ele despertava o mesmo que um cachorro de rua com seus pêlos enredados e cara de perdido desperta nas meninas. Era sucesso garantido. Enfim, Marcelo se esforçava ao máximo pelas mulheres e Ricardo só deixava estar.
Saíram muitas vezes juntos, chegaram a morar na mesma casa, tocar na mesma banda, compor juntos e partilhavam de muitos dos mesmos amigos. Reuniam-se com frequência, e mantinham piadas sobre cada integrante do grupo. Piadas relacionadas à histórias particulares de cada um ali, que só quem pertencia àquele grupo seleto sabia. Não havia segredos entre eles.
Os dois amigos eram grandes companheiros de copo. Bebiam quase todos os dias, e terminavam sendo sempre os últimos a saírem das festas ou do bar. Muitas vezes terminavam caindo por aí, ou dormindo em algum sofá de boca aberta.
Certo dia houve uma festa muito boa, em alguma balada da cidade. Os dois amigos, acompanhados de outros comparsas beberam muito e se divertiram ao extremo. Depois da balada, partiram para um pós-festa na casa do Marcelo, onde beberam mais, conversaram e dançaram. Ricardo estava já beijando uma das meninas que acompanhavam o grupo e Marcelo, apesar de seu empenho, não conseguiu pescar nenhuma. O grande problema foi que Ricardo, no alto de sua bebedeira, apesar de anos de experiência no ramo, não aguentou e adormeceu na hora do sexo. A garota, decepcionada, sai do quarto e vai no banheiro para se preparar para dormir, qual não é sua surpresa ao encontrar quem no corredor? Marcelo, que estava quase espumando pela boca de vontade de trepar, e àquela altura, nada restou à sua pouca ética que lhe custava manter. Partiu pra cima da moça com a maior conversa fiada que existe, mas que devido à conjuntura dos fatos acabou dando certo, e ele passou a vara na mulher do amigo, sem dó nem piedade. Fez miséria com a mulher que à pouco se deitava com seu amigo. E pra confirmar seu ato canalha fez tudo isso em cima do corpo alcoolizado do coitado, inclusive apoiando sua mão naquele ombro amigo, que muitas vezes o acalentou.  Enquanto isso Ricardo sonhava o sonho dos anjos, tranquilo, confiando.
No dia seguinte veio a bomba. Ricardo sabendo de tudo, pela boca do próprio Marcelo, e percebendo que de nada adiantaria apelar à consciência de seu amigo degenerado, resolveu ligar para o pai dele, com quem tinha liberdade para uma conversa franca. Depois de contar o ocorrido, perguntou se essa era a educação que ele havia dado para o Marcelo, e cobrou-lhe uma postura. Ricardo estava possesso. E o pai de Marcelo riu. O velho também é degenerado, pensou ele.
E a menina? Estava totalmente envergonhada, e chegou até a chorar naquela manhã, depois de ter participado da canalhice.
Marcelo não gostou da fama de degenerado que ganhou.

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