terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Diário de um Mago


Paulo Coelho, o escritor brasileiro mais lido, autor de dezenas de livros, traduzido em mais de cem línguas, integrante da Academia Brasileira de Letras, é o autor do Livro “Diário de um Mago” escrito em 1987. Homem admirado por seu conhecimento esotérico e experiências extra-sensoriais, reparte sua sabedoria através dos livros.
O livro narra a trajetória a pé de Paulo Coelho pelo “Caminho de Santiago”, que sai da França e chega em Santiago da Compostela na Espanha. A peregrinação durou vários dias e houve vários episódios misteriosos. O Guia de Paulo foi Petrus, um homem sábio que ajudou Paulo a enxergar respostas da vida de que ele precisava.
Em busca da espada que seu mestre no Brasil lhe dera, Paulo utilizou das Práticas de RAM. São elas:
  • O Exercício da Semente
  • O Exercício da Velocidade
  • O Exercício da Crueldade
  • O Ritual do Mensageiro
  • O Exercício da Água
  • O Ritual do Globo Azul
  • O Exercício do Enterrado Vivo
  • O Sopro de RAM
  • O Exercício das Sombras
  • O Exercício da Audição
  • O Exercício da Dança

Essas práticas são exercícios simples e complexos para alcançar o conhecimento, realizados separadamente com uma reflexão posterior.
Houve experiências com bruxo, demônios, padres, ermitão, monge, anjo da guarda, etc.
Alguns testes de paciência, aprendizados práticos, uso do dom de línguas, ida em casamento, visão, escalada na cachoeira, expulsão de demônios entre outras atividades marcaram a trajetória.
O Caminho de Santiago é um caminho de aprendizado, onde se aprende a ter equilíbrio espiritual, moral, físico e psicológico.
No fim, Paulo Coelho recebeu sua espada, como demonstração de mais uma barreira vencida no Aprendizado e a conquista do título de Mestre de RAM.
Um aprendizado que essa história nos deixa é que “as pessoas sempre chegam na hora exata nos lugares onde estão sendo esperadas”.
A mensagem do livro é a de que “um discípulo nunca pode imitar os passos de seu guia. Porque cada um tem uma maneira de ver a vida, de conviver com as dificuldades e com as conquistas. Ensinar é mostrar que é possível. Aprender é tornar possível a si mesmo.”

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Bruxas e bruxarias na Lagoa da Conceição – Florianópolis


Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, sul do Brasil é conhecido também como Ilha da Magia, por muitos de seus habitantes serem místicos e acreditarem em lendas de bruxas. Essa cultura da bruxaria vem de longa data e começou com a colonização açoriana (Ilha de Açores - Portugal) na ilha no século XVIII, herança da cultura europeia de tempos anteriores.
A bruxa seria a mulher da comunidade que se deixa levar por impulsos interiores inconscientes, que busca punir os que vivem perto por atitudes que a atingem de forma negativa. Toda mulher é uma bruxa em potencial. Ter um olhar ameaçador, um comportamento estranho, praticar cavalgadas noturnas (onde se amarram as crinas dos animais), quebranto, mal-olhado são comportamentos comuns às bruxas. A mulher derradeira é a sétima a nascer das irmãs, e se não for batizada pela irmã mais velha, pode virar bruxa.
Os principais alvos da bruxa são: a ex namorada do marido, as mulheres que andam sozinhas a noite no mato e vizinhos.
Essa cultura da bruxaria é uma cultura machista, visto que a bruxa é a mulher que desafia a autoridade masculina, à qual deve estar sempre subordinada.
As manifestações de bruxaria e feitiçaria ocorrem geralmente no âmbito doméstico e familiar, que são as fontes de poder feminino.
A benzedeira seria a mulher que atua contra as bruxas, com banhos, rezas e prescrição de tratamento contra a bruxaria. Ela é bem vista na maioria das vezes pela comunidade.
Por outro lado, quando houve visitações da Inquisição no Pará, a maior parte das mulheres acusadas de bruxaria eram curandeiras, rezadeiras ou parteiras. Isso deve ser pela desconfiança da igreja dessas mulheres poderosas e influentes, que todos na comunidade “ouvem”.
Alguns procedimentos contra embruxamento realizado pelas benzedeiras seriam:
  • prevenção de embruxamento na criança recém-nascida: colocar na água no primeiro banho, a erva de são francisco e depois jogar essa água num córrego que corra em direção ao mar (ou à lagoa), enquanto recita uma reza.
  • colocar sob o travesseiro ou o colchão em que dorme a criança uma tesoura aberta em forma de cruz e algumas ervas espalhadas
  • Deixar a chave torcida na fechadura, para impedir que ela entre,
  • contra bruxas, feitiços e maus-olhados: espalhar alho pela casa
Em muitas sociedades, o curador, a pessoa que tem o poder de afastar doenças, desordens e os mal-estares, é também a pessoa que pode causar tudo isso. Ele é respeitado e temido ao mesmo tempo.
Existe uma leve menção à relação da bruxa com demônios, mas é mínima em relação à experiência européia na Santa Inquisição. Hoje existe uma mistura de crenças, influências de vários povos que vieram para habitar a ilha.
A diferença da feiticeira para a bruxa, do ponto de vista mané (manezinho da ilha: habitante nativo da ilha), é que a feiticeira faz uso de procedimentos externos, como a fabricação de poções e remédios.
Quando uma ideia é compartilhada por um grupo de pessoas, isso se torna uma realidade social. Desejar o mal com muita vontade, assim como desejar o bem à alguém influencia a vida das pessoas. Até os dias atuais, pouco foi descoberto sobre a mente humana.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Carlos Castañeda: o mito


O antropólogo mais famoso dos anos 1960 é indispensável na leitura de todo aquele que se diz alternativo e de vanguarda, mente aberta e evoluída. Castañeda fez seu PhD na Universidade da Califórnia (UCLA) e sua tese defendida com êxito se transformou em um livro: “A Erva do Diabo (do original em inglês: The Teachings of Don Juan).
A saga de Castañeda com Don Juan, o mestre feiticeiro (brujo) se extende em 5 livros sendo eles: A Erva do Diabo, Uma estranha realidade, Viagem a Ixtlan, O segundo círculo do poder e Porta para o infinito. Nesses livros Carlos narra a experiência de pesquisa (etnografia) e aprendizado com um indío Yaqui no México, onde eles passam cinco anos juntos na condição de mestre e aluno. No princípio Castañeda só estava interessado no uso do Peyote, da datura e de certos cogumelos entre os yaquis. Essas e outras plantas alucinógenas abriram para o autor as portas da percepção, o iniciaram na conscientização e domínio da realidade extraordinária, que foge dos limites e conceitos da civilização ocidental. Daí ele passa a viver uma jornada espiritual, estranha e às vezes apavorante, cheia de visões, percepções extra-sensoriais; jornada esta que um homem deve empreender para tornar-se um “homem de conhecimento”.
Carlos e Don Juan partilharam de experiências psicodélicas e alucinógenas com plantas, usadas em rituais indígenas. Em uma dessas experiências Castañeda fez uma previsão de futuro, onde ele vê uma ladra de livros. Essa experiência ajudou a UCLA a resolver o mistério do roubo, fato registrado como verídico. Carlos aos poucos vai se desapegando dos conceitos de vida e mundo ocidental e vai entrando de cabeça no mundo da feitiçaria, realizando ao fim grandes prodígios como levitar, se transformar em pássaro, teletransportar-se, entre outros. Ele aprende a comer e até mesmo andar de forma diferente, mais eficiente.
Em seus últimos livros Castañeda narra experiências com outros bruxos e bruxas, onde compartilham de conhecimentos e ideias similares. Ele trabalha a ideia original de Nagual e Tonal (as duas dimensões que influenciam a vida do homem). As formas de enxergar e lidar com o “Aliado” também são exploradas.
Anos depois da coleção de livros, Castañeda faz carreira em Los Angeles como professor de danças xamânicas, danças energizantes que aprendeu com Don Juan. Casa-se com uma filha adotiva bem mais nova que ele e outra discípula dele, conhecidas carinhosamente com “irmãzinhas”. Dizem que quando Carlos morreu, suas duas mulheres e discípulas se mataram, por não terem mais alegria em viver sem ele. Sua ex-esposa (mãe do filho dele) e eterna apaixonada, chora sua morte.
Castañeda ficou milionário logo com o lançamento de seu primeiro livro em 1968, ano em que o movimento hippie se alastrava pelos Estados Unidos e mundo. Muitos leitores cruzavam a fronteira com o México procurando Don Juan, ou alguma experiência parecida com xamanismo e plantas alucinógenas, já que estavam desacreditados de toda a estrutura da civilização ocidental que já provava ser fracassada.
Até que ponto estava Carlos Castañeda certo?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tropicália


Quando falamos em Tropicália não podemos deixar de citar Caetano Veloso, baiano nascido em lar de classe média que se formou na Universidade Federal da Bahia em filosofia e que recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFBA pela “grandiosidade de sua obra e sua renomada sabedoria”.
A tropicália surgiu no final da década de 1960 como crítica aos fracassados projetos políticos e culturais do passado, foi também uma celebração exuberante, apesar de muitas vezes irônica, da cultura brasileira e suas contínuas permutações.
Roberto Schwarz foi o primeiro crítico, trabalhando na tradição marxista, a apontar a natureza alegórica da Tropicália, de forma a transmitir as disjunções do desenvolvimento capitalista no Brasil.
Outros nomes do movimento são: Augusto de Campos, Oswald de Andrade, Tom Zé, Gilberto Gil, Maria Betânia, Gal Costa, Roberto Carlos, Chico Buarque , Moraes Moreira, Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Paulinho boca de Cantor, Baby Consuelo, Raul Seixas .
Oswald de Andrade escreveu o “Manifesto Pau-Brasil” (1924) , onde ele exortava os colegas a criar uma “ poesia de exportação”, onde nossa literatura não seria como as correntes lietrárias dos países dominantes, mas também não as ignoraria. Escreveu também “Manifesto Antropofágico” (1928), onde ele dá a ideia de “devorar” de maneira crítica as manifestações culturais vindas do exterior. Quarenta anos mais tarde, Caetano disse que a Tropicália foi uma forma de “neo-antropofagismo”.
Gilberto Gil se graduou em Administração de Empresas na UFBA e trabalhou na Gessy Lever do Brasil. Do grupo baiano, ele era o mais envolvido com música de protesto, e mais tarde com a contracultura.
Muitos brasileiros naquela época associavam o rock ao imperialismo cultural dos Estados Unidos e defendiam a MPB como expressão musical mais adequada da modernidade brasileira.
A música brasileira tem sido o ramo menos colonizado e mais africanizado da cultura popular brasileira, além de ser a mais bem-sucedida em sua disseminação não apenas no Brasil, mas também ao redor do mundo.
Fatos importantes da Tropicália:
  • Fundação do Centro Popular de Cultura (1962) sob a égide da União Nacional dos Estudantes
  • O golpe de 1 de abril de 1964 (regime militar autoritário e pró-capitalista)
  • A apresentação do “som universal” transmitido pela televisão em 1967
  • O filme de Glauber Rocha: Terra em transe (1967)
  • O filme Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade
  • Os festivais de música televisionados
  • O rei da vela de Zé Celso
  • Seja marginal, seja herói de Hélio Oiticica (1968)
  • Tributo a Che Guevara em “Soy loco por tí, América”
  • Apresentação de “É proibido proibir” de Caetano no FIC pela TV Globo (1968)
  • “Caminhando” de Geraldo Vandré
  • Boicote ao III FIC (TV Globo) e shows no Sucata
  • Prisão de Caetano e Gil e exílio em Londres por 2 anos e meio (1968).
  • Gilberto Gil preso em Florianópolis por porte de maconha.

O cineasta Luis Carlos Barreto ao ouvir uma das composições sem título de Caetano em 1967, detectou afinidades com uma instalação chamada Tropicália, do artista visual Hélio Oiticica. Daí surgiu o nome.
O papel do rádio e início da televisão no Brasil ajudou muito na disseminação da Tropicália.
Muitos dos artistas envolvidos no movimento pensavam simultaneamente em progresso na carreira, ativismo político e inovação formal.
As transformações políticas e sociais só poderiam vir com uma mudança revolucionária na mentalidade do povo, e a cultura popular seria o veículo para essa luta.
Com o regime militar nasceu a TV Globo e houve um desenvolvimento muito grande na tecnologia da indústria de comunicação comparado ao desenvolvimento social.
O regime militar buscava representar o Brasil como um “jardim” pacífico, apesar de ter suprimido brutalmente a oposição.
Os principais músicos do rock brasileiro vinham de famílias de classe operária e poucos tinham nível universitário.
Sartre escreveu: “ o 'verdadeiro intelectual' é aquele que resiste às algemas do humanismo universalista burguês, reconhece a própria posição na estrutura de classes e decide servir às classes exploradas, ajudando-as a desenvolver um 'conhecimento prático do mundo para mudá-lo'”.
Em 1968 Gil vestia túnicas de cores vivas e jaquetas de couro (estilo Black Panther), Caetano usava ternos de plástico futuristas, com gravatas primitivas feitas de dentes de jacaré, Tom Zé e Gal usavam roupas que lembravam os hippies de São Francisco.
No final do movimento, os tropicalistas também começaram a adotar os movimentos internacionais de contracultura. A Tropicália foi o principal ponto de referência para a contracultura brasileira, no início dos anos 1970.
Os Novos Baianos desenvolveram um som diferente, que foi descrito como “um encontro do carnaval baiano com Woodstock”. Eles moravam em uma comunidade alterntiva semi-rural no Rio de Janeiro.
O grupo Doces Bárbaros, juntava a cosmologia do candomblé com a astrologia. Eles não tinham interesse em discutir leis, moral, religião, política ou estética. Buscavam irradiar “ uma imensa carga de luz de vida” em cada cidade que “invadiam”.
A Tropicália ajudou uma geração que atingiu a maturidade em tempos escuros, a definir as prioridades políticas, culturais e sociais do Brasil.