terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tropicália


Quando falamos em Tropicália não podemos deixar de citar Caetano Veloso, baiano nascido em lar de classe média que se formou na Universidade Federal da Bahia em filosofia e que recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFBA pela “grandiosidade de sua obra e sua renomada sabedoria”.
A tropicália surgiu no final da década de 1960 como crítica aos fracassados projetos políticos e culturais do passado, foi também uma celebração exuberante, apesar de muitas vezes irônica, da cultura brasileira e suas contínuas permutações.
Roberto Schwarz foi o primeiro crítico, trabalhando na tradição marxista, a apontar a natureza alegórica da Tropicália, de forma a transmitir as disjunções do desenvolvimento capitalista no Brasil.
Outros nomes do movimento são: Augusto de Campos, Oswald de Andrade, Tom Zé, Gilberto Gil, Maria Betânia, Gal Costa, Roberto Carlos, Chico Buarque , Moraes Moreira, Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Paulinho boca de Cantor, Baby Consuelo, Raul Seixas .
Oswald de Andrade escreveu o “Manifesto Pau-Brasil” (1924) , onde ele exortava os colegas a criar uma “ poesia de exportação”, onde nossa literatura não seria como as correntes lietrárias dos países dominantes, mas também não as ignoraria. Escreveu também “Manifesto Antropofágico” (1928), onde ele dá a ideia de “devorar” de maneira crítica as manifestações culturais vindas do exterior. Quarenta anos mais tarde, Caetano disse que a Tropicália foi uma forma de “neo-antropofagismo”.
Gilberto Gil se graduou em Administração de Empresas na UFBA e trabalhou na Gessy Lever do Brasil. Do grupo baiano, ele era o mais envolvido com música de protesto, e mais tarde com a contracultura.
Muitos brasileiros naquela época associavam o rock ao imperialismo cultural dos Estados Unidos e defendiam a MPB como expressão musical mais adequada da modernidade brasileira.
A música brasileira tem sido o ramo menos colonizado e mais africanizado da cultura popular brasileira, além de ser a mais bem-sucedida em sua disseminação não apenas no Brasil, mas também ao redor do mundo.
Fatos importantes da Tropicália:
  • Fundação do Centro Popular de Cultura (1962) sob a égide da União Nacional dos Estudantes
  • O golpe de 1 de abril de 1964 (regime militar autoritário e pró-capitalista)
  • A apresentação do “som universal” transmitido pela televisão em 1967
  • O filme de Glauber Rocha: Terra em transe (1967)
  • O filme Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade
  • Os festivais de música televisionados
  • O rei da vela de Zé Celso
  • Seja marginal, seja herói de Hélio Oiticica (1968)
  • Tributo a Che Guevara em “Soy loco por tí, América”
  • Apresentação de “É proibido proibir” de Caetano no FIC pela TV Globo (1968)
  • “Caminhando” de Geraldo Vandré
  • Boicote ao III FIC (TV Globo) e shows no Sucata
  • Prisão de Caetano e Gil e exílio em Londres por 2 anos e meio (1968).
  • Gilberto Gil preso em Florianópolis por porte de maconha.

O cineasta Luis Carlos Barreto ao ouvir uma das composições sem título de Caetano em 1967, detectou afinidades com uma instalação chamada Tropicália, do artista visual Hélio Oiticica. Daí surgiu o nome.
O papel do rádio e início da televisão no Brasil ajudou muito na disseminação da Tropicália.
Muitos dos artistas envolvidos no movimento pensavam simultaneamente em progresso na carreira, ativismo político e inovação formal.
As transformações políticas e sociais só poderiam vir com uma mudança revolucionária na mentalidade do povo, e a cultura popular seria o veículo para essa luta.
Com o regime militar nasceu a TV Globo e houve um desenvolvimento muito grande na tecnologia da indústria de comunicação comparado ao desenvolvimento social.
O regime militar buscava representar o Brasil como um “jardim” pacífico, apesar de ter suprimido brutalmente a oposição.
Os principais músicos do rock brasileiro vinham de famílias de classe operária e poucos tinham nível universitário.
Sartre escreveu: “ o 'verdadeiro intelectual' é aquele que resiste às algemas do humanismo universalista burguês, reconhece a própria posição na estrutura de classes e decide servir às classes exploradas, ajudando-as a desenvolver um 'conhecimento prático do mundo para mudá-lo'”.
Em 1968 Gil vestia túnicas de cores vivas e jaquetas de couro (estilo Black Panther), Caetano usava ternos de plástico futuristas, com gravatas primitivas feitas de dentes de jacaré, Tom Zé e Gal usavam roupas que lembravam os hippies de São Francisco.
No final do movimento, os tropicalistas também começaram a adotar os movimentos internacionais de contracultura. A Tropicália foi o principal ponto de referência para a contracultura brasileira, no início dos anos 1970.
Os Novos Baianos desenvolveram um som diferente, que foi descrito como “um encontro do carnaval baiano com Woodstock”. Eles moravam em uma comunidade alterntiva semi-rural no Rio de Janeiro.
O grupo Doces Bárbaros, juntava a cosmologia do candomblé com a astrologia. Eles não tinham interesse em discutir leis, moral, religião, política ou estética. Buscavam irradiar “ uma imensa carga de luz de vida” em cada cidade que “invadiam”.
A Tropicália ajudou uma geração que atingiu a maturidade em tempos escuros, a definir as prioridades políticas, culturais e sociais do Brasil.


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