terça-feira, 18 de novembro de 2014

On the road (Pé na Estrada)



Primeiramente assisti o filme (2012) com a direção de Walter Salles e depois li o livro, um clássico beat de 1957 do autor Jack Kerouac. O filme é bem feito, com bons atores e bem atual. Porém senti uma discrepância entre as duas obras, como ocorre quase sempre, já que o filme retrata a leitura que o diretor teve do livro. Mas a leitura do Walter Salles me desagradou, assim como desagradou muitos amigos meus que leram o livro e sentiram  como eu a deturpação que foi feita nessa obra clássica que ajudou na propagação dos ideais beat e posteriormente no movimento hippie.
Como bem sabemos o movimento beat e o movimento hippie foram importantes movimentos sociais e culturais a partir de onde surgiram estilos musicais, bandas, escritores entre outros artistas que ainda influenciam nossa cultura até os dias de hoje. No Brasil foi bem forte a influência da “Tropicália”, que recebeu influências de todos os movimentos sociais e culturais que ocorriam nos Estados Unidos e Europa, adaptando a cultura ocidental à nossa realidade, através da antropofagia.
Jack em seu livro traz o espírito da liberdade, o espírito do desapego, da aventura, da juventude inquieta e revolucionária, das pessoas que não se acomodam, que não se satisfazem com a mediocridade, com a padronização, com o establishment. Relata histórias dele e de seus amigos que resolveram desbravar os Estados Unidos de Leste a Oeste, percorrendo estradas (principalmente a rota 66) de carro, de trem e de carona. Aventuras repletas de experiência de vida, aprendizado e diversão.
O livro retrata uma juventude que era vista como rebelde sem causa, que consumiam maconha, bebida, tabaco e benzedrina, fora outras substâncias intorpecentes. Gostavam de festas e orgias. Alguns eram escritores, outros músicos, e havia os que simplesmente eram aventureiros.
Havia algumas pessoas mais velhas que possuiam pensamentos parecidos, e eram considerados tutores por essa juventude, um deles era o Old Bull Lee, que morava em uma fazenda, onde escrevia, fumava sua maconha plantada por ele mesmo, tomava sua benzedrina e bebia seu martine com sua esposa. Possuiam 2 filhos pequenos muito apegados a eles. Viviam loucos e felizes em família.
Eles curtiam muito o Blues que era a onda do momento no final dos anos 40, início dos anos 1950. Eles buscavam a proximação entre eles (brancos) e os negros. Não tinham medo e até gostavam de frequentar “os bairros negros”.
Na obra de Kerouac é retratada as relações de amizade e as relações amorosas que ocorrem entre membros do grupo, e mostra a dificuldade na adaptação dos antigos costumes de casar, ter filhos, emprego fixo com a realidade louca e desapegada dessa nova geração. As esposas de Dean que o digam.
Apesar de todas essas novidades no relacionamento que marcavam a geração deles, Jack não cita em sua obra, em nenhum momento o homossexualismo entre os amigos do grupo cujas histórias são narradas, apesar da amizade intensa e sem preconceitos, não há um relato concreto sobre alguma relação gay entre eles, o que me levou a questionar a qualidade do filme de Walter Salles.
Minha crítica é para todas as pessoas que gostam de generalizar os “alternativos e de vanguarda”, colocando todos no mesmo “saco”. Não é por que é hippie que é maconheiro, não é porque é alternativo que é gay. Cada pessoa tem suas características e gostos pessoais e isso, por favor, deve ser levado em conta.

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