Primeiramente assisti o filme (2012) com a direção de Walter Salles e depois li o livro, um clássico beat de 1957 do autor Jack Kerouac. O filme é bem feito, com bons atores e bem atual. Porém senti uma discrepância entre as duas obras, como ocorre quase sempre, já que o filme retrata a leitura que o diretor teve do livro. Mas a leitura do Walter Salles me desagradou, assim como desagradou muitos amigos meus que leram o livro e sentiram como eu a deturpação que foi feita nessa obra clássica que ajudou na propagação dos ideais beat e posteriormente no movimento hippie.
Como bem sabemos o movimento beat e o
movimento hippie foram importantes movimentos sociais e culturais a
partir de onde surgiram estilos musicais, bandas, escritores entre
outros artistas que ainda influenciam nossa cultura até os dias de
hoje. No Brasil foi bem forte a influência da “Tropicália”, que
recebeu influências de todos os movimentos sociais e culturais que
ocorriam nos Estados Unidos e Europa, adaptando a cultura ocidental à
nossa realidade, através da antropofagia.
Jack em seu livro traz o espírito da
liberdade, o espírito do desapego, da aventura, da juventude
inquieta e revolucionária, das pessoas que não se acomodam, que não
se satisfazem com a mediocridade, com a padronização, com o
establishment. Relata histórias dele e de seus amigos que resolveram
desbravar os Estados Unidos de Leste a Oeste, percorrendo estradas
(principalmente a rota 66) de carro, de trem e de carona. Aventuras
repletas de experiência de vida, aprendizado e diversão.
O livro retrata uma juventude que era
vista como rebelde sem causa, que consumiam maconha, bebida, tabaco e
benzedrina, fora outras substâncias intorpecentes. Gostavam de
festas e orgias. Alguns eram escritores, outros músicos, e havia os
que simplesmente eram aventureiros.
Havia algumas pessoas mais velhas que
possuiam pensamentos parecidos, e eram considerados tutores por essa
juventude, um deles era o Old Bull Lee, que morava em uma fazenda,
onde escrevia, fumava sua maconha plantada por ele mesmo, tomava sua
benzedrina e bebia seu martine com sua esposa. Possuiam 2 filhos
pequenos muito apegados a eles. Viviam loucos e felizes em família.
Eles curtiam muito o Blues que era a
onda do momento no final dos anos 40, início dos anos 1950. Eles
buscavam a proximação entre eles (brancos) e os negros. Não tinham
medo e até gostavam de frequentar “os bairros negros”.
Na obra de Kerouac é retratada as
relações de amizade e as relações amorosas que ocorrem entre
membros do grupo, e mostra a dificuldade na adaptação dos antigos
costumes de casar, ter filhos, emprego fixo com a realidade louca e
desapegada dessa nova geração. As esposas de Dean que o digam.
Apesar de todas essas novidades no
relacionamento que marcavam a geração deles, Jack não cita em sua
obra, em nenhum momento o homossexualismo entre os amigos do grupo
cujas histórias são narradas, apesar da amizade intensa e sem
preconceitos, não há um relato concreto sobre alguma relação gay
entre eles, o que me levou a questionar a qualidade do filme de
Walter Salles.
Minha crítica é para todas as pessoas
que gostam de generalizar os “alternativos e de vanguarda”,
colocando todos no mesmo “saco”. Não é por que é hippie que é
maconheiro, não é porque é alternativo que é gay. Cada pessoa tem
suas características e gostos pessoais e isso, por favor, deve ser
levado em conta.
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