domingo, 30 de agosto de 2015

Chorando pelado

Andinho era um rapaz direito, cumpria com seus deveres de cidadão, de homem, não gostava de falcatrua. Andinho era homem fiel, honesto, gostava do que era certo e nem passava pela sua cabeça mentir para sua mulher. Ele trabalhou por muito tempo como comerciante na cidade, trabalhava de dia e de noite pra alcançar sua meta. Porém ele sabia que esse ritmo de trbalho, de correria, não lhe fazia bem. Não faz bem pra nenhum ser humano trabalhar mais que seis horas, muito mais pra ele que trabalhava dez horas por dia!
Camila, sua namorada, era uma moça determinada, tinha vinte e cinco anos e já possuía seu consultório de psicologia e já buscava algo melhor, com mais espaço, mais glamour para seus pacientes. Gostava de roupas de mulher mais velha, de meia idade, pois aquelas se ajustavam à sua idade, dizia. Andinho preferia que ela usasse roupas de mulher de vinte e poucos.
O casal se conhecia havia muitos anos, foram amigos de infância, e depois de anos surgiu um interesse sexual, o que os levou ao namoro. Eles se conheciam muito bem. Os pais dos dois adoraram e torciam para que o casal desse certo, com a benção de Deus. Camila, apesar de ser muito parceira, começou a plantar ideias na cabeça de Andinho, ela dizia que ele deveria ser mais centrado, mais ambicioso, subir os degrais do sucesso e das classes. Andinho começou a se encomodar com essa história, sentia de alguma forma uma ansiedade, uma pressão, que vinha mas ele não sabia como. Afinal, ele era muito bem decidido com suas ideologias. Era um rapaz trabalhador sim, e até tinha algumas ambições, porém acreditava num futuro possível onde haveria menos desigualdade, mais liberdade e mais amor. Não era certo passar por cima de ninguém pra obter vantagem financeira, isso é pros que ignoram a coletividade.
Certo dia, Andinho chegou do trabalho, tomou um belo banho quente, relaxou, depois ligou pra Camila e combinou de se encontrarem. Ele estava com saudade dela. Apesar do namoro ter começado fazia pouco tempo, ele sentia como se namorassem há muito tempo. Ele tinha boas expectativas com relação ao futuro com Camila. Jantaram juntos, conversaram e entre um folguedo e outro, foram diminuindo suas peças de roupa, até estarem como vieram ao mundo. Entre uma carícia e outra, Camila voltou a falar sobre a ascensão social necessária, e Andinho sentiu um aperto no peito, uma angústia, que foi aumentando conforme ela ia falando, sua voz se tornara chata, seu tom era estridente e antipático, Andinho não aguentou mais e se impos, disse que as coisas não eram bem assim e que ele tinha valores de homem do bem, que acreditava na evolução da consciência, onde todos se tratariam melhor e que a comunidade poderia viver uma autogestão anárquica. Camila falou duro com ele, apesar de ter aveludado a voz, ela era direta, dizia que se ele pensasse assim iria estagnar, seria passado pra trás, feito de trouxa, pois ninguém estava nessa onda dele e as pessoas eram como feras disputando carniça em meio à savana da vida. Ela falou como amiga de infância, falou com autoridade de mãe, usou de toda a psicologia possível, afinal, ele era seu principal projeto, Andinho tinha futuro, levava jeito pra negócios. Tanta pressão aliada a técnicas, levaram Andinho à um surto, onde em meio à protestos, desatou em choro. O choro foi livre. E a cena se revelou ridícula: ele e a namorada nús, e ele chorando motivado pelo uso da psicologia por sua querida. Dias depois eles terminaram o namoro.

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