Celso e Manú se conheceram na balada, gostavam de raves, músicas eletrônicas, tomavam LSD, êxtase, entre uma dose de vodca e outra. Como solteiros eles levavam uma vida frenética, muito agitada, com muito extravaso. Se conheceram assim, e assim decidiram ficar, estabeleceram uma parceria e não havia mentira entre eles, não havia hipocrisia, continuaram a fazer as mesmas coisas juntos. Uma vez chegaram a ir numa zona, e ambos transaram com uma garota de programa; uma vida bem livre de preconceitos. Se amaram, e de tanto amor, não conseguiam se desgrudar mais, e assim casaram. Fizeram cerimônia e tudo.
Com os anos, todo relacionamento se transforma, as pessoas se transformam, e aí surgem os conflitos. Celso passou a estudar símbolos, política, teorias da conspiração, e junto com ideias religiosas que ele tirou de sua própria cabeça, com influências cristãs e evangélicas nutridas pela família, criou suas próprias teorias. Teorias que pra ele eram leis, eram a verdade absoluta, incontestáveis. E criou-se um fanatismo religioso dele com suas próprias ideias. Manú estranhou aquilo, mas ela achou que aquela seria apenas uma de suas muitas loucuras, e que logo ele desistiria daquele pensamento. Além de ele não esquecer aquela história toda, resolveu puxar sua esposa pro buraco, e passou a pegar no pé dela, proibiu droga, bebida, balada, tudo o que ela gostava. Dizia que ela deveria buscar Deus, ser uma esposa mais dedicada, pois se continuassem naquele caminho os bons laços de família não iriam se concretizar.
Que a liberdade seja defendida e Celso tinha todo o direito de acreditar no que quisesse, afinal, todo mundo acredita em alguma coisa, mesmo que essa coisa seja não acreditar em nenhuma coisa. O problema aqui está na relação humana, relação de dominação, que nem sempre é algo consciente, nem algo com fundo de maldade. Ele gostaria de que ele e sua família acreditassem em Deus e o buscassem da mesma maneira, formando um grupo unido física e espiritualmente. Ele pensava: se termos filhos, o que lhes ensinaremos? Como os educaremos?
A verdade é que o casal começava a ter cada vez mais discórdias. Manú adorava tomar uma cervejinha depois de um dia exaustivo de trabalho e fumar um cigarrinho. Nada demais, sem extrapolar. E isso era motivo pra preocupação, pra tensão. As vezes ela fazia isso escondido, e logo depois se arrependia pensando: que absurdo eu tomar uma cervejinha de leve escondida do meu marido, parece até que eu o estou traindo. E no discurso de Celso era como se fosse traição mesmo.
Depois de uma boa discussão, vinha os pedidos de desculpa, as juras de amor e fatalmente o sexo. O sexo conciliativo tem um sabor especial, sabor de renovação de votos. E nesse calor de emoções e prazeres físicos eles partiram para um papai e mamãe apaixonado. Com voracidade e virilidade Celso assumiu seu posto por cima de Manú e depois de uma meia dúzia de estocadas sentiu algo estranho e disse pra Manú, com aparência desanimada e ao mesmo tempo alucinada: Amor, eu to sentindo algo estranho, acho que to ficando possuído. Manú perplexa pergunta: o que? Que você disse? Ele repete e completa: Acho que tem um espírito encostando em mim, tem um demônio querendo encostar em mim! Broxura instantânea. Manú ficou puta e ao mesmo tempo tinha vontade de rir. Por sua cabeça passou uma cena hilária: um triângulo amoroso deles com a tal entidade. Hilário, porém broxante.
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