terça-feira, 24 de maio de 2016

Coca Colas pesadas

No interior do Rio Grande do Sul fazia frio naquela manhã. Cinza. Poucos sorrisos circulavam pela cidade. E Vangelder precisava ir ao supermercado. Haveria naquela manhã, uma festividade em sua casa, com mais 2 casais de amigos.  Pessoal gente boa,  um era colega seu de escritório, o Darci, pessoa interessante,  casado havia 30 anos,  gostava de observar pássaros raros e dormia todo dia às oito da noite. Era tarado, e não conseguia disfarçar. Ele até que tentava, mas sua esposa sempre percebia sua euforia. Pobre Darci. Se olhasse muito pra outra mulher apanhava, e se não olhava, apanhava também.
Reuniu forças e foi à luta. Foi buscar seu alimento. Na verdade não era alimento algum, era 2 litros de coca-cola. Sua esposa fazia questão. A esposa de Vangelder , Marta era uma pessoa muito curiosa também. Era muito verdadeira, não conseguia mentir nem conter suas emoções. Chorava e dizia palavras das quais se arrependia. E a palavra dita é como a flecha lançada. Nessas horas  Vangelder queria se enfiar dentro de um buraco. Marta era apaixonada por ele. Pra ela era como se o marido ainda tivesse seus 40 anos, forte, destemido, dono de si.
No supermercado, que na verdade mais parecia um mercado mesmo, ele entrou ávido para buscar logo aquelas coca colas e sair ligeiro. Era avesso à filas, conglomerados de gente e outras situações que são facilmente evitáveis, mas a boa vontade muitas vezes dá lugar ao egoísmo. E naquele dia havia um único caixa funcionando e uma fila enorme. Tristeza.
Com aqueles dois cascos cheios, um em cada mão, Vangelder entrou na fila. Mas depois de 10 minutos ele não mais aguentou a demora e disse com seu sotaque carregado de Holandês: essas cocas estão ficando pesadas! Disse em alto e bom som para todos ouvirem, sem um pingo de vergonha. Muitos olharam assustados, a boa e velha hipocrisia brasileira estava representada.
Mais 5 minutos se passaram e a fila não parecia andar. A caixa parecia trabalhar mais lento ainda que de costume. Vangelder  soltou uma das garrafas da mão, espatifando-a no chão. Todos olharam dessa vez. E ele avisou: Eu disse que estava ficando pesado, essa aqui está pesando!

A caixa correu o serviço até chegar em Vangelder, que se recusou veemente à pagar aquela coca espatifada. Ameaçou processar e tudo. Estava indignado, aquele era seu protesto contra o sistema. O gerente liberou Vangelder, que saiu mais uma vez satisfeito de ser um professor das ruas.

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