Pensamentos revoltosos permeavam sua mente. Uma revolta de
quem conheceu uma sociedade em que as pessoas se respeitavam e colaboravam com
o coletivo, com a coisa pública. Era difícil para Vangelder ter paciência com
os brasileiros, povo miscigenado que não tinha mais que quinhentos anos de
história, que ainda buscava criar um modelo de civilização próprio, e que nesse
caminho, se perdeu e já não sabia se
queria ser como os europeus, mesmo se orgulhando de ser descendente dos mesmos.
Todavia Vangelder tinha uma missão no sul do Brasil, que era
pregar os ideais da civilização europeia e dar o exemplo de como se indignar
com a falta de educação daqueles que diziam seguir o caminho do velho mundo.
Como podia alguém vestir-se de terno e gravata para cometer estelionato? Isso
não cabia na cabeça do nosso velho professor das ruas.
Resolvendo coisas na rua, numa quinta feira de tarde,
preocupado com contas altas e escola do filho, começou a atravessar a rua e
quase foi atropelado por um motociclista que não respeitou a faixa de pedestres. Vangelder não pensou
duas vezes e meteu a mão no capacete dele, xingando-o com o sotaque belga. “Olha
a faixa de pedestres, idiota!”
As senhoras e alguns jovens ficaram estupefatos ante o
acontecimento. O motociclista imprudente parou a moto logo mais à frente, tirou
o capacete e foi em direção ao Vangelder. Quando percebeu que era um senhor,
xingou e disse: “Se o senhor não fosse idoso eu te rachava a cara!” Vangelder
não se intimidou e acertou-lhe uma porrada servida no queixo, que fez o motociclista
cair no chão.
Vendo aquilo, os jovens já correram pra apartar a briga, que
ia ser no mínimo, feia. E assim tivemos o desfecho de mais uma aventura de nosso herói, que com
sua bravura, mostrou à todos os presentes, com quantos paus se fazem uma canoa.
Mesmo velho, caído e com a moral baixa, ensinou o povão brasileiro a respeitar
as leis de trânsito.
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