O sol escaldante do centro-oeste castigava Marcelo, estava
aliviado que aquela tarde ele não precisaria trabalhar. Aquela horrível rotina
de oito, às vezes nove horas de trabalho por dia não era compatível com uma
vida tranquila e pacífica. Como podia alguém ter tempo pra trabalhar, se
exercitar, comer bem e sem pressa, transar, dormir, conversar com amigos e companheira, ler e
resolver coisas pessoais nessa sociedade capitalista, onde o tempo é dinheiro e
a grana está acima de tudo?
Trabalhava como auxiliar de escritório, fizera faculdade por
4 anos para depois ganhar uma miséria, que nunca o deixaria subir de classe
social. Estava fadado a ser pobre até a morte. Às vezes até pensava em ser
traficante de drogas ou contrabandista de alguma coisa, cogitou ser ladrão de
banco também; afinal, Os bancos são grandes colaboradores desse sistema
explorador onde apenas 1% da população mundial detém quase 90% da riqueza do
planeta. Então se dane os bancos!
O complicado é a luta interna dele com suas ideologias. Ele
queria ser honesto, decente, não dever nada pra ninguém, ter a ficha limpa.
Então preferia ser pobre, mas honesto, consciência leve. E assim tentava ser
feliz com o que podia. Valorizava suas amizades, sua companheira, as
experiências simples, a natureza. Final do dia era a hora do baseado. Só
alegria. Era um verdadeiro remédio, que acalmava seu corpo e mente. Às vezes ouvia
uma boa música, às vezes conversava com alguém. Era sempre uma delícia.
Apesar de polêmica, Marcelo tinha certeza que a planta
natural não tinha como lhe prejudicar. Usava com parcimônia, pois tinha a vida
muito agitada e não queria misturar as coisas. Ele tinha objetivos e não queria
fraquejar na missão. Mas final de semana estava liberado. A fumaceira subia.
Bob Marley no som e o sentimento de que tudo esta bem.
E naquela tarde, num desses momentos de luxo, que Marcelo
conseguia arranjar na sua rotina, estava ele perto de um lago urbano, mas que
possuíam várias capivaras como moradoras. Era um parque arborizado e com muita
sombra, para que as pessoas pudessem desfrutar. E numa dessas sombras, Marcelo
sentou. Começou a sentir a brisa e a energia positiva de paz que reina na
natureza. Que privilégio seria poder desfrutar disso diariamente, realmente em
meio à natureza!
Relaxou, e quando já entrava quase em estado de meditação,
apareceram umas três capivaras que vinham em sua direção. Ele ficou agradecido
por aquele contato com a natureza divina. Logo após apareceram mais três e ele
resolveu observar aquelas criaturas. Quando ele meditava sobre o equilíbrio que
existe entre a flora e a fauna, uma confusão iniciou-se entre as capivaras. Era
uma treta. Coisa horrível, uma querendo dar coices na outra. Não se sabia se
era por ciúme, por honra, o fato é que a confusão ocupou grande espaço e foi em direção ao Marcelo, que teve que
sair às pressas da confortável sombra. Baseado no chão, medo e adrenalina nas
veias. Parecia confusão de bar. Divina paz natural!