sexta-feira, 28 de julho de 2017

As abelhas brasileiras

Conhecemos abelhas desde a infância, elas estão por toda a parte, polinizando flores para produção de frutos e alimentos. Porém a abelha mais popular aqui no Brasil é a Apis Mellifera, a famosa abelha européia e/ou africanizada que possui ferrão e pica quando se sente ameaçada. Sua ferroada pode levar até a morte caso a vítima tenha alergia ao seu veneno.
Porém muitos desconhecem as nossas abelhas nativas, abelhas genuinamente brasileiras que já estavam aqui antes dos europeus trazerem a Apis para as terras tupiniquins. São muitas espécies que se organizam de formas diferentes, algumas possuem mais de uma rainha, outras fazem ninho no barranco de terra, mas o que as diferenciam é principalmente o fato de não possuírem ferrão ativo, ou seja, elas não ferroam. São dóceis e podem viver perto de crianças sem perigo algum.
Geralmente as nossas abelhas produzem menos mel que a européia, porém é um mel seleto, de diferentes plantas, muitas nativas, com mais propriedades nutritivas e medicinais. Os enxames são bem menores também, menos populosos. São pequenas guerreiras que estão resistindo à extinção, já que constroem suas colmeias geralmente em troncos de árvores grossas, e como sabemos, estas estão se acabando com o desmatamento.
Fortalecendo a criação de abelhas nativas brasileiras, estamos salvando estas espécies da extinção e salvando a vegetação nativa, assim como ajudando na produção de alimentos dos quais nossas abelhas participam ativamente através da polinização. As abelhas brasileiras são tudo de bom!

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O anarquismo e Nestor Machno

Lendo sobre o Movimento Anarquista nos deparamos com uma história muito interessante, a história de Nestor Machno e o Exército Negro. Era tempo de revolução na Rússia (1917), os socialistas tentavam derrubar os czares e acabar com o Império Russo. Dentro do grupo dos socialistas havia os bolcheviques, os trotskistas e os anarquistas, que agiam juntos contra o Exército Branco (exército imperial) e resistiam no território que seria no futuro a União Soviética.
Machno foi um dos comandantes do exército anárquico que botou para correr tanto o Exército Branco, como o Exército Vermelho (bolcheviques). O grande inimigo era o império, porém Machno desconfiava de Lenin e dos bolcheviques, pois a revolução era recente e ele não se agradava da organização dos comunistas que tinham sede de poder e buscavam uma ditadura do proletariado à sua maneira.
O Anarquismo teve raízes em algumas personalidades como Bakunin, Proudhon, Malatesta, Kropotkin e Emma Goldman. É um movimento anti-autoritário, contra a hierarquia, estado e concentração do poder. Já na I Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como Primeira Internacional, foi uma organização internacional fundada em setembro de 1864. A primeira organização operária a superar fronteiras nacionais, reunindo membros de todos os países da Europa e também dos Estados Unidos) houve grande representatividade anarquista e debates acalorados com Marx. Um dos desentendimentos de Bakunin com Marx era que o primeiro discordava do direito à herança.
Revoltados e buscando uma autogestão onde não houvesse autoritarismo, os anarquistas da Ucrânia invadiram terras de ricos, distribuíram aos pobres e implantaram um governo onde todos participavam, onde todos trabalhavam, plantavam e colhiam. A terra era de todos e não havia chefe. Organizavam-se em Sovietes onde tomavam decisões políticas e administrativas conjuntamente sobre a sua comunidade.
Machno chama a atenção pelo apoio que teve da população, sendo jovem teve a audácia de enfrentar os bolcheviques e imperialistas e exigir independência organizativa perante os vermelhos. Escapou da morte algumas vezes e foi respeitado por Lenin e Trotsk. Durante três anos vingou a iniciativa machnovista e a Ucrânia viveu pela primeira vez na história à plenitude dos princípios do comunismo libertário, onde nenhuma autoridade externa teve poder ali.
Planejaram escolas de acordo com os métodos de Francisco Ferrer, um educador espanhol anarquista. Tinha como base a espontaneidade e a independência entre os alunos. Cada comuna possuía uma média de 300 pessoas. O Exército Insurgente chegou a ter 50 mil homens. Machno via no campo e na vida simples a única via para o anarquismo alcançar sua realização.

Trotsk foi canalha com os Insurgentes e armou ciladas para matar seus representantes e depois perseguir a população que não concordasse com ele. Machno conseguiu fugir para Paris onde morreu anos depois. Porém deixou, sem sombra de dúvidas, uma esperança para todos aqueles que acreditam que podemos viver felizes e com abundância sem o autoritarismo. 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Zé da Pinga

Em sua mocidade, Marcelo aproveitou o quanto pode. Experimentou muitas substâncias psicoativas e o álcool não ficou de fora. Aprendeu a beber depois dos vinte anos, e demorou ter maturidade para lidar com a bebida. Até os 30 anos de idade houve muitas aventuras alcoólicas, divertidas e não tanto.
Algumas vezes Marcelo voltava para a república de estudantes onde morava, totalmente embriagado, falava numa linguagem estranha, que não podia-se entender. Eram grunhidos, gemidos, desistências de tentativas de diálogo. Teve ocasiões que sequer conseguia enfiar a chave na fechadura e abrir a porta de seu lar. Dormiria na garagem mesmo, não fosse a ajuda de seus amigos que percebiam entre gracejos a situação caótica.
Dentre outras estripulias falava o que não devia, se machucava, caía, cantava alto na madrugada acordando os colegas de república. Gostava de se passar. Porém nunca perdeu a vergonha na cara. Sabia que era uma fase e que ia sair dessa, iria amadurecer. Mas ia se despedir dos vinte e poucos anos com categoria.
Em uma festa depois de tomar umas doze latinhas, comprou uma garrafa de cachaça e foi tomando de gole. Fez fiasco, caiu no mato, se sujou de barro. Depois não se lembrava de nada. Todavia revelou seu segredo. Ao passar de uma quantidade de bebida, ele se transformava, era como se ficasse possuído. E a entidade tinha até um nome: Zé da Pinga.
Era divertido, malandro, piadista. Queria conversar com todos, tirar onda. Sempre estava gargalhando, poucas vezes ficava na bad. Era um deus malandro como os exus africanos, Lock: o deus nórdico; ou o coyote, entre o índios norte-americanos. Uma mistura de sabedoria e gozação. Falava oitenta por cento de verdade e vinte por cento de mentira para depois rir do resultado.

Depois dos trinta anos Marcelo mudou, amadureceu, bebe, mais bebe pouco. Porém até hoje sabe que se brincar, se deixar o álcool entrar sem controle, o Zé da Pinga incorpora. 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Bruno e a Moída

Laura era uma mulher independente, trabalhava em um salão de beleza e corria atrás do seu pão com vontade e coragem. Tinha separado do antigo marido havia poucos anos e sentia-se leve, solta, desobrigada de qualquer coisa. Cansou das manias e da vida boêmia do ex. Vinte e cinco anos casada aturando os mesmos defeitos não é pra qualquer um. Os defeitos no início parecem inofensivos, são quase imperceptíveis, porém depois vão se agravando, a paciência vai terminando, a raiva aumentando, até que se perde a paz. Coisa de humano.
Depois dos longos anos de casada, se transformou em conservadora. As pessoas se acostumam com coisas ruins também. E a pressão social, as companhias acabam influenciando de forma assustadora. Mesmo sendo de essência rebelde, passou a aceitar posturas e comportamentos repressores e opressores. Talvez ela nunca tenha pensado sobre isso, ou quem sabe travou muitas guerras consigo mesma e cansada, resolveu adiar a mudança que, diga-se de passagem, é muito dolorida.
 Gostava de viajar, conhecer outras culturas, ver se o Brasil era ruim mesmo como as pessoas diziam.  Viajou para alguns lugares da América do Sul e se encantou com a cultura latina americana. As músicas, a culinária, o povo. O sangue latino ferve, as pessoas interagem, são calorosas, amorosas, nervosas.  Aquela beleza lhe brilhava os olhos. Nunca se cansaria de peregrinar por esse continente abençoado.
E quando foi para o Peru, conheceu dentre outras pessoas o surinamês e também mochileiro Bruno Amoida.  Era negro, alto e professor de educação física em seu país. Gostava de caminhar longos trechos apreciando a natureza, acompanhado de seu cão. Sonhava em dar a volta ao mundo.  A amizade ficou colorida e foi na intimidade que Laura descobriu o segredo de Bruno.
Primeiro ela achou que era uma forma de conquista, para agradar ela. Depois desconfiou que era algo da cultura dele.  Achava diferente. Bruno era muito interessado na sexologia. Tinha coleções de livros sobre o assunto, utilizava anel peniano e outros acessórios sexuais. Laura ficou espantada com tudo aquilo, mas era preciso viver, se libertar, experimentar novas coisas, se permitir. E foi nesse terreno fértil que Bruno plantou sua mandioca.
No início era muito bacana, eles passavam o final de semana juntos, se “internavam” em casa onde namoravam sem pressa. Até que um dia depois de quatro horas tomando madeirada, já com os corpos encharcados de suor, cama molhada, a casa cheirando sexo, dor de cabeça ela se cansou e dando um basta, levantou, colocou suas roupas e pediu para que ele se retirasse que ela já não agüentava mais, estava assada, debilitada.
Bruno acatou ao pedido, mesmo sem entender direito o que se passava. Ela disse que não queria mais aquela vida, que os amigos já até zombavam dela. Estava cansada. E assim terminou o par romântico Bruno e a Moída.