quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Contracultura no Brasil


O movimento de contracultura no Brasil foi muito importante para uma transformação social do país, onde passamos a compartilhar de muitas ideias, autores e músicas internacionais.
Segundo Luís Carlos Maciel, pode-se entender contracultura, a palavra, de duas maneiras: como um fenômeno histórico concreto e particular, cuja origem pode ser localizada nos anos 60; e como uma postura, ou até uma posição, em face da cultura convencional, de crítica radical. No primeiro sentido, a contracultura não é, só foi; no segundo, foi, é e certamente será.
Houve uma influência da juventude norte-americana e europeia no Brasil na década de 60 com relação às guerras, um movimento anti-guerra, que questionava a ordem sócio-econômica mundial, que questionava o establishment. Havia descontentamento com os “benefícios” da sociedade industrial, e com isso reivindicações em torno dos direitos civis. Havia uma agitação, esperança e inovação nas formas de luta política em todo o globo: a Revolução Cultural Chinesa, a resistência popular vietnamita à agressão armada dos Estados Unidos e a guerrilha de Guevara na Bolívia. Houve também três assassinatos políticos importantes: John e Bob Kennedy e Martin Luther King. A luta antiimperialista era uma esperança de dias melhores. Maciel diz que o inconformismo era existencial. O protesto estudantil no Brasil foi a primeira voz a se erguer contra a ditadura militar. Os estudantes perceberam que é preciso manter o poder sob contestação permanente, a ser exercida, não pela oposição oficial, mas por todos os seguimentos da sociedade.
Com esse movimento houve a divulgação do rock feito por jovens para jovens, canções de protesto e posteriormente a criação de novos sons brasileiros, uma mescla do nacional com o internacional, o chamado Tropicalismo.
Nietzsche escreve que “novas culturas nascem sempre como música e como poesia”.
O som dos Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Joan Baez, Jimmi Hendrix, Janis Joplin embalavam a vida da juventude da época, no Brasil Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Betânia, Os Novos Baianos, Tom Zé criavam o novo som brasileiro.
Os festivais marcaram presença no movimento de contracultura: monterrey, woodstock, Ilha de Wight e de Águas Claras no Brasil.
Marx, Sartre eram discutidos e influenciavam músicas, livros, a universidade.
O movimento hippie foi adotado pelos brasileiros, pregando o desapego material, o amor livre, o artesanato, a legalização da maconha, a desconfiança dos médicos ligados ao establishment, o êxodo urbano ( a volta à natureza). Julgando-se impotente para transformar o sistema, o hippie se auto-transforma, animado pelo projeto novo de ser feliz, a despeito e à margem do sistema. O misticismo irracionalista, filosofia oriental, astrologia, especulação metafísica, parapsicologia, zen-budismo, realismo mágico, discos voadores, macumba, espiritismo foram transformados nas principais disciplinas da academia do underground. Eles queriam ver Deus. Criou-se a expressão “careta”: pessoa que não é livre, não assume a responsabilidade da própria existência e prefere deixar-se conduzir com o resto da manada.
As drogas também vieram junto, o LSD era o alucinógeno responsável pelas grandes “viagens” daquele momento, até mesmo os Beatles fizeram uma música em homenagem à droga (Lucy in the sky with diamonds). O psicodelismo foi defendido quase como uma religião, onde pregava-se a utilização de drogas alucinógenas para 'expandir ou alargar a consciência”. Aldous huxley, Thimothy Leary, Richard Alpert, William Hitchcock foram alguns dos defensores.
Os yippies (junção dos hippies com a nova esquerda) queriam o “céu agora”, não como os cristãos que esperam pelo paraíso só depois de mortos. Tinham o seguinte slogan: “nunca confie em ninguém com mais de trinta anos”. Usavam cabelos compridos, por eles comunicarem desrespeito pela América: uma sociedade racista, de cabelo curto, é incomodada pelo cabelo comprido.
Nos anos 60 a sociedade brasileira acordou para a verdade que “a única religião que pode ser considerada autêntica é aquela que cada um cria para si próprio. As instituições religiosas desvirtuam o seu propósito original; as igrejas organizadas são a própria negação do sentimento religioso vivo.
Por mais intensas e dolorosas que foram algumas experiências nessa época, com certeza valeram a pena pelo legado que deixaram. Viva a liberdade!

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