O movimento de
contracultura no Brasil foi muito importante para uma transformação
social do país, onde passamos a compartilhar de muitas ideias,
autores e músicas internacionais.
Segundo Luís Carlos
Maciel, pode-se entender contracultura, a palavra, de duas maneiras:
como um fenômeno histórico concreto e particular, cuja origem pode
ser localizada nos anos 60; e como uma postura, ou até uma posição,
em face da cultura convencional, de crítica radical. No primeiro
sentido, a contracultura não é, só foi; no segundo, foi, é e
certamente será.
Houve uma influência
da juventude norte-americana e europeia no Brasil na década de 60
com relação às guerras, um movimento anti-guerra, que questionava
a ordem sócio-econômica mundial, que questionava o establishment.
Havia descontentamento com os “benefícios” da sociedade
industrial, e com isso reivindicações em torno dos direitos civis.
Havia uma agitação, esperança e inovação nas formas de luta
política em todo o globo: a Revolução Cultural Chinesa, a
resistência popular vietnamita à agressão armada dos Estados
Unidos e a guerrilha de Guevara na Bolívia. Houve também três
assassinatos políticos importantes: John e Bob Kennedy e Martin
Luther King. A luta antiimperialista era uma esperança de dias
melhores. Maciel diz que o inconformismo era existencial. O protesto
estudantil no Brasil foi a primeira voz a se erguer contra a ditadura
militar. Os estudantes perceberam que é preciso manter o poder sob
contestação permanente, a ser exercida, não pela oposição
oficial, mas por todos os seguimentos da sociedade.
Com esse movimento
houve a divulgação do rock feito por jovens para jovens, canções
de protesto e posteriormente a criação de novos sons brasileiros,
uma mescla do nacional com o internacional, o chamado Tropicalismo.
Nietzsche escreve que
“novas culturas nascem sempre como música e como poesia”.
O som dos Beatles,
Rolling Stones, Bob Dylan, Joan Baez, Jimmi Hendrix, Janis Joplin
embalavam a vida da juventude da época, no Brasil Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Betânia, Os Novos Baianos, Tom Zé
criavam o novo som brasileiro.
Os festivais marcaram
presença no movimento de contracultura: monterrey, woodstock, Ilha
de Wight e de Águas Claras no Brasil.
Marx, Sartre eram
discutidos e influenciavam músicas, livros, a universidade.
O movimento hippie foi
adotado pelos brasileiros, pregando o desapego material, o amor
livre, o artesanato, a legalização da maconha, a desconfiança dos
médicos ligados ao establishment, o êxodo urbano ( a volta à
natureza). Julgando-se impotente para transformar o sistema, o hippie
se auto-transforma, animado pelo projeto novo de ser feliz, a
despeito e à margem do sistema. O misticismo irracionalista,
filosofia oriental, astrologia, especulação metafísica,
parapsicologia, zen-budismo, realismo mágico, discos voadores,
macumba, espiritismo foram transformados nas principais disciplinas
da academia do underground. Eles queriam ver Deus. Criou-se a
expressão “careta”: pessoa que não é livre, não assume a
responsabilidade da própria existência e prefere deixar-se conduzir
com o resto da manada.
As drogas também
vieram junto, o LSD era o alucinógeno responsável pelas grandes
“viagens” daquele momento, até mesmo os Beatles fizeram uma
música em homenagem à droga (Lucy in the sky with diamonds). O
psicodelismo foi defendido quase como uma religião, onde pregava-se
a utilização de drogas alucinógenas para 'expandir ou alargar a
consciência”. Aldous huxley, Thimothy Leary, Richard Alpert,
William Hitchcock foram alguns dos defensores.
Os yippies (junção
dos hippies com a nova esquerda) queriam o “céu agora”, não
como os cristãos que esperam pelo paraíso só depois de mortos.
Tinham o seguinte slogan: “nunca confie em ninguém com mais de
trinta anos”. Usavam cabelos compridos, por eles comunicarem
desrespeito pela América: uma sociedade racista, de cabelo curto, é
incomodada pelo cabelo comprido.
Nos anos 60 a sociedade
brasileira acordou para a verdade que “a única religião que pode
ser considerada autêntica é aquela que cada um cria para si
próprio. As instituições religiosas desvirtuam o seu propósito
original; as igrejas organizadas são a própria negação do
sentimento religioso vivo.
Por mais intensas e
dolorosas que foram algumas experiências nessa época, com certeza
valeram a pena pelo legado que deixaram. Viva a liberdade!
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