Um contraponto marcante entre o modelo europeu de
sociedade medieval e o novo modelo que surge no pós-renascimento é a
maximização do individualismo.
No modelo europeu de sociedade medieval as pessoas viviam em grupos, os feudos. A
população trabalhava em equipe, dividiam a mesma fé. As obras artísticas eram
anônimas pois considerava-se toda produção artística como sendo
responsabilidade de Deus. Na sociedade feudal existiam as classes hereditárias
(nobreza, clero e servos) em que nascia-se nela e morria-se nela, sem
possibilidade de mobilidade social. A pessoa necessitava do intermédio da
igreja para que pudesse ter a salvação eterna (confissão dos pecados e
pagamento de indulgências).
Com o Renascimento a sociedade se individualizou. O
indivíduo podia escolher se ficava no meio rural ou se viveria nas cidades,
comercializando, produzindo. Podia escolher um ofício, escolher sua religião. A
salvação passa a ser pessoal, independente de igreja ou outra instituição, a
relação espiritual passa a ser da pessoa diretamente com Deus. Agora podia-se
assinar sua produção artística e realiza-la com maior independência e liberdade
(hoje temos os direitos autorais, as patentes). A qualidade de vida não mais
era responsabilidade de sua classe hereditária. Passava a ser atributo do homem
todos os frutos do sucesso ou fracasso de sua obra. Podemos constatar na
atualidade inúmeros processos jurídicos envolvendo engenheiros, médicos entre
outros profissionais por obras ou serviços mal realizados.
A burguesia alimentou e alimenta em muito o
individualismo dentro do sistema capitalista. Para a alta burguesia dentro do
capitalismo industrial e financeiro, o individualismo que lhes interessa é o
individualismo que aliena, que enfraquece a classe mais explorada, o
proletariado. Nasceu o trabalho
especializado e específico, que não poupou nem a produção intelectual. O
artesão que conhecia todo o processo de produção de seu artefato, se tornou
pouco a pouco um trabalhador alienado, que só sabia fazer uma parte do processo
de produção. Com grande parte da
população individualizada e alienada, podia-se fazer com que ela trabalhasse
mais (tendo menos tempo para se informar, para congregar-se), produzisse mais,
por menores salários, e sem voz (Napoleão chegou a proibir a formação de
sindicatos e greves com o Código Civil Napoleônico), já que os meios de
produção e os bancos agora pertenciam à poucos homens poderosos.
Podemos concluir que o individualismo que se
acentuou no pós-renascimento foi benéfico em partes e pode ser perigoso em
outras, principalmente quando se alimenta a idéia de “que nessa vida é cada um
por sí”. Cabe à sociedade perceber e diagnosticar as dificuldades de se viver
em paz e com qualidade de vida.
Augusto Coelho Neto
Augusto Coelho Neto
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