segunda-feira, 11 de março de 2013

A maximização do individualismo


Um contraponto marcante entre o modelo europeu de sociedade medieval e o novo modelo que surge no pós-renascimento é a maximização do individualismo.

No modelo europeu de sociedade medieval  as pessoas viviam em grupos, os feudos. A população trabalhava em equipe, dividiam a mesma fé. As obras artísticas eram anônimas pois considerava-se toda produção artística como sendo responsabilidade de Deus. Na sociedade feudal existiam as classes hereditárias (nobreza, clero e servos) em que nascia-se nela e morria-se nela, sem possibilidade de mobilidade social. A pessoa necessitava do intermédio da igreja para que pudesse ter a salvação eterna (confissão dos pecados e pagamento de indulgências).

Com o Renascimento a sociedade se individualizou. O indivíduo podia escolher se ficava no meio rural ou se viveria nas cidades, comercializando, produzindo. Podia escolher um ofício, escolher sua religião. A salvação passa a ser pessoal, independente de igreja ou outra instituição, a relação espiritual passa a ser da pessoa diretamente com Deus. Agora podia-se assinar sua produção artística e realiza-la com maior independência e liberdade (hoje temos os direitos autorais, as patentes). A qualidade de vida não mais era responsabilidade de sua classe hereditária. Passava a ser atributo do homem todos os frutos do sucesso ou fracasso de sua obra. Podemos constatar na atualidade inúmeros processos jurídicos envolvendo engenheiros, médicos entre outros profissionais por obras ou serviços mal realizados.

A burguesia alimentou e alimenta em muito o individualismo dentro do sistema capitalista. Para a alta burguesia dentro do capitalismo industrial e financeiro, o individualismo que lhes interessa é o individualismo que aliena, que enfraquece a classe mais explorada, o proletariado.  Nasceu o trabalho especializado e específico, que não poupou nem a produção intelectual. O artesão que conhecia todo o processo de produção de seu artefato, se tornou pouco a pouco um trabalhador alienado, que só sabia fazer uma parte do processo de produção. Com  grande parte da população individualizada e alienada, podia-se fazer com que ela trabalhasse mais (tendo menos tempo para se informar, para congregar-se), produzisse mais, por menores salários, e sem voz (Napoleão chegou a proibir a formação de sindicatos e greves com o Código Civil Napoleônico), já que os meios de produção e os bancos agora pertenciam à poucos homens poderosos.

Podemos concluir que o individualismo que se acentuou no pós-renascimento foi benéfico em partes e pode ser perigoso em outras, principalmente quando se alimenta a idéia de “que nessa vida é cada um por sí”. Cabe à sociedade perceber e diagnosticar as dificuldades de se viver em paz e com qualidade de vida.

Augusto Coelho Neto

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