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O filósofo Michel
Foucault divaga sobre alguns assuntos ligados à história das
ciências, sendo algumas delas a história da medicina urbana, dos
hospitais, dos manicômios, dos cemitérios, enfim da história do
saneamento no meio urbano, tudo isso como interesse da burguesia.
Foucault discorre sobre
a malha do poder, que não significa exatamente poder vindo do
Estado, mas que parte de cada um de nós seres humanos, esses poderes
não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura
social. O que existem são práticas ou relações de poder. Ele
relata que na ótica do direito que o poder é concebido como
violência legalizada. Ele fala também sobre a teoria do controle,
onde a população de forma geral é que vigia umas as outras para
que as coisas ocorram conforme o esperado. O poder é produtor de
individualidade. Todo saber é político e tem sua gênese em
relações de poder.
Foucault critica
duramente a psiquiatria, pois ela nasceu de uma tentativa de afastar
os ditos “doentes mentais” da cidade. Sendo que a própria
psiquiatria que “cria” a doença mental. É facil mostrar como se
torna obrigatório desfazer-se do louco justamente porque ele é
inútil na produção industrial.
Comenta que a figura do intelectual
específico se desenvolveu a partir da Segunda Grande Guerra. Na
atualidade, vivemos o desaparecimento do “grande escritor”. Os
problemas políticos dos intelectuais são em termos de
“verdade/poder” e não em termos de “ciência/ideologia”.
A humanidade, conforme Foucault, instala
cada uma de suas violências em um sistema de regras, e prossegue
assim de dominação em dominação. O domínio das regras é o
segredo do grande jogo da história. O europeu não sabe quem é ele:
ele ignora as raças que se misturam nele. Fala-se raramente sobre a
história da justiça, da prática judiciária, do que foi
efetivamente um sistema penal, do que foram os sistemas de
repressão. Toda a repressão a vagabundos, ociosos, mendigos desde o
fim da Idade Média até o século XVIII era com intuito de
aprisionar e leva-los ao trabalho forçado, já com os “violentos”
da plebe, os que estavam mais prontos a passar à ação imediata e
armada, pessoas que nos dias de motim traziam armas e fogo esses eram
presos com o intuito de isola-los para que não servissem de ponta de
lança aos movimentos de resistência popular. Hoje essa plebe não
proletarizada é usada pela burguesia como soldados, policiais,
traficantes, pistoleiros e utilizados na vigilância e na repressão
do proletariado. O primeiro erro das associações operárias foi ter
excluído a massa dos operários não especializados através da
condição imposta que para aderir à associação pertencer a uma
profissão. Não é com ideias que se faz avançar a história, mas
com uma força material, a do povo que se reunifica nas ruas. Os
milhões de vagabundos que existiam na China semi-colonial e
semi-feudal, foram a base do primeiro Exército Vermelho. Nossa
ideologia moral é a ideologia burguesa que é reafirmado e
reconfirmado pelas sentenças dos tribunais.
O intelectual, diz Foucault, era
aquele que dizia a verdade àqueles que não a viam e em nome
daqueles que não podiam dizê-la. As escolas se parecem um pouco com
as prisões, as fábricas se parecem muito com as prisões.
Designar os focos,
denunciá-los, falar deles publicamente é uma luta, forçar a rede
de informação institucional, nomear, dizer quem fez, o que fez, é
um primeiro passo para outras lutas contra o poder.
O corpo é uma
realidade bio-política, completa Foucault. A medicina é uma estratégia bio-política.
Na França as
estatísticas de nascimento e mortalidade e, na Inglaterra, as
grandes contabilidades de população aparecem no século XVII. O
nascimento da prisão foi em fins do século XVIII. A constituição
das ciências humanas foi no século XIX.
Sobre os cemitérios,
Foucault relata a história do “Cemitério dos Inocentes” situado
no centro de Paris, onde o amontoamento de cadáveres passou dos
limites dos muros e caiam em volta, no quintal de casas vizinhas.
Somente em 1780 foi que ocorreram as primeiras emigrações de
cemitérios para a periferia da cidade, aí que surge o cemitério
individualizado, o caixão individual.
Os matadouros que
também estavam situados no centro de Paris foram colocados nos
arredores.
Em meados do século
XVIII, que o subsolo passou a pertencer ao rei, ao Estado, e não
mais ao proprietário do terreno.
A noção de
salubridade surgiu pouco antes da Revolução Francesa.
A partir de 1832, Paris
passou a dividir bairros de ricos de bairros de pobres.
Reaparece no século
XIX, grupos de dissidência religiosa, que tem por objetivo lutar
contra a medicalização, reivindicar o direito sobre seu próprio
corpo, o direito de viver, de estar doente, de se curar e morrer como
quiserem.
Foucault relata que o médico que as
comunidades religiosas chamavam para fazer visitas aos hospitais era,
geralmente, o pior dos médicos. Percebemos que a característica em
comum entre essas instituições (escola, usina, hospital) é uma
separação decidida entre aqueles que têm o poder e aqueles que não
o têm.
A prisão, diz Foucault, foi um grande
instrumento de recrutamento. A pessoa entrava na prisão e se tornava
infame e quando saía, não podia fazer nada senão voltar a ser
delinquente. Virava um proxeneta, um policial ou um alcaguete. A
prisão profissionalizava.
A polícia, aponta Foucault, precisa dos
delinquentes para sobreviver, do contrário não aceitaríamos esta
gente uniformizada, armada, enquanto nós não temos o direito de o
estar, que nos pedem documentos, que vem rondar nossas portas.
"O poder enlouquece, os
que governam são cegos. Somente aqueles que estão à distância do
poder, que não estão em nada ligados à tirania, fechados em suas
estufas, em seus quartos, em suas meditações, podem descobrir a
verdade."
A geografia se
desenvolveu à sombra do exército. Os geógrafos do século XIX eram
agentes de informações, informações que eram diretamente
exploráveis pelas autoridades coloniais, os estrategistas, os
negociantes ou os industriais.
Foucault continua, dizendo que as lutas políticas, os
confrontos a respeito do poder, com o poder e pelo poder, tudo isso
deve ser interpretado apenas como continuações da guerra, como
episódios, fragmentações, deslocamentos da própria guerra. O
poder não para de registrar e institucionalizar a busca da verdade,
profissionaliza-a e a recompensa. A produção de discursos
“verdadeiros” (e que, além disso, mudam incessantemente) é um
dos problemas fundamentais do Ocidente. O poder não se aplica aos
indivíduos, passa por eles.
O saber sociológico se
constitui sobretudo em práticas como a dos médicos.
"Seu problema não era
fazer com que as pessoas fossem punidas, mas que nem pudessem agir
mal, de tanto que se sentiriam mergulhadas, imersas em um campo de
visibilidade total em que a opinião dos outros, o olhar dos outros,
o discurso dos outros os impediria de fazer o mal ou o nocivo."
Foucault ouve um
“sussurro anti-sexo” vindo por aí. Para um sistema que se
preocupa com produção e consumo, sexo é uma perda de tempo.
Para resistir, Foucault segreda, é
preciso que a resistência seja como o poder. Tão inventiva, tão
móvel, tão produtiva quanto ele. Que como ele, venha de “baixo”
e se distribua estrategicamente.
Houve um momento em que
a loucura deixou de aparecer como a máscara da razão, e foi
inscrita como um Outro prodigioso mas presente em todo homem
razoável, detendo uma parte, talvez o essencial, dos segredos da
razão.
Crítica à Maquiavel:
ser hábil em conservar seu principado não é de modo algum possuir
a arte de governar. Um bom governante deve ter paciência, soberania
e diligência. Deve ser mais paciente que colérico. Deve ter o
conhecimento das coisas, dos objetivos que deve procurar atingir e da
disposição para atingi-los. O governante deve ser como o pai de
família, que é o que se levanta antes das outras pessoas da casa,
que se deita depois dos outros, que pensa em tudo, que cuida de tudo
pois se considera a serviço da casa.
A família como modelo
de governo vai desaparecer. A família em seu formato tradicional
esta desaparecendo.
Por todas essas idéias que Michel Foucault continua sendo tão geniais e contemporâneas.
Por todas essas idéias que Michel Foucault continua sendo tão geniais e contemporâneas.
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