segunda-feira, 26 de agosto de 2013

As quatro fases da sociologia no Brasil e na América Latina

Para Viana (2006), a sociologia no Brasil e na América Latina passou por quatro momentos distintos.
1º )Essa fase se estendeu até 1930. A sociologia brasileira teve seu início com os chamados “pensadores sociais” que somente reproduziam as teorias sociológicas europeias. Não havia elaboração de teoria sociológica brasileira. Nesse período havia incongruência no pensamento sociológico brasileiro, pois os métodos sociológicos não se aplicavam a realidade da sociedade brasileira. Não se pode olhar a partir de um contexto para interpretar outro. Em 1920 a sociologia começou a ser lecionada vinculada aos cursos de direito e economia, mas ainda não tinha autonomia.
2º )Ocorreu entre 1930 e 1945. Foi o período de institucionalização da sociologia, onde foi inaugurada a Escola Livre de Sociologia e Política. Houve também a fundação da Sociedade de Sociologia de São Paulo. Surgiram os primeiros livros didáticos de sociologia escritos por Arthur Ramos , Delgado de Carvalho, Fernando de Azevedo e Carneiro Leão. Traduziram “As regras do método sociológico” de Durkheim. Alguns intelectuais estrangeiros como Roger Bastide, Jacques Lambert, Levi Strauss vieram para o Brasil, ajudar nesse processo de institucionalização. Nas décadas de 1920 e 1930, os sociólogos buscaram o entendimento da formação da sociedade brasileira. Gilberto Freyre com a obra “Casa Grande e Senzala” de 1933, Sérgio Buarque de Holanda com “Raizes do Brasil” de 1936 e Caio Prado Junior com seu livro “Formação do Brasil Contemporâneo” de 1942, analisaram temas como abolição da escravatura, índios em solo nacional, urbanização, migração, analfabetismo e pobreza.
 3º) Tem início em 1945, e é o momento da consolidação da sociologia no Brasil. Os pesquisadores começam a usar técnicas próprias para o estudo da sociedade, embora o referencial teórico ainda seja influenciado pelas tendências europeias e norte-americanas. Nessa época, surgem obras importantes da sociologia brasileira: “A revolução brasileira”, de Caio Prado Júnior; “Sociedade de classes e subdesenvolvimento”, de Florestan Fernandes; “ Industrialização e atitudes operárias”, de Leôncio Martins Rodrigues; “Brancos e negros em São Paulo”, de Florestan Fernandes e Roger Bastide.

4º) Nessa etapa a sociologia se desenvolve mais e passa a abordar temas mais complexos da sociedade brasileira. Apesar do governo militar ter reprimido a sociologia, retirando a disciplina do currículo das escolas de segundo grau, e perseguindo professores universitários, como Florestan Fernandes, a sociologia resistiu e atualmente faz parte do currículo do ensino médio, e expandiu mais suas influências tanto na academia como no setor público e privado brasileiro.

domingo, 18 de agosto de 2013

O tipo ideal em Weber

Karl Emil Maximilian Weber (1864-1920), sociólogo alemão, criou alguns fundamentos da metodologia na sociologia moderna. Para ele a ciência era o veículo para se conhecer a realidade sobre a existência humana. Influenciado pelo filósofo Kant, em seus escritos ele mostrou ser fundamental a separação de ciência natural e social.  Escreveu “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, e na obra “A ‘objetividade’ do conhecimento nas ciências sociais” ele criou o conceito de “tipo ideal”. O tipo ideal é um recurso metodológico utilizado pelo pesquisador para que ele possa delimitar sua busca na realidade social.
O tipo ideal é um elemento de análise retirado de dentro de algum elemento que constitua a sociedade, tais como: religião, economia, burocracia, capitalismo e a historia social. Weber acredita que analisar a sociedade como um todo é difícil, para isso a utilização dos tipos ideais é fundamental para que o sociólogo faça sua análise.
É no pensamento do pesquisador que o tipo ideal é construído, e no plano das idéias pensa-se os fenômenos, criando assim o tipo. O tipo ideal não está nos fenômenos, mas sim na cabeça do pesquisador.
Ainda hoje, muitos cientistas sociais em suas pesquisas sociológicas, utilizam o método de tipo ideal, para restringir a pesquisa dentro da diversificada realidade social. Com isso os pesquisadores focam sua pesquisa em um determinado local, em um determinado grupo de pessoas, em um fenômeno observado, facilitando a abordagem sobre o tema, tornando-o mais passível de veracidade comprovada.

Em sociedades complexas, como os grandes centros urbanos da atualidade, é imprescindível que haja um recorte, um enquadre de certos fenômenos, em certas situações específicas, visto que se for haver generalizações, seria impossível uma análise satisfatória.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O capitalismo nos Estados Unidos - análise sociológica de Weber através da religião

O sociólogo Karl Emil Maximilian Weber, alemão, nascido em Erfurt no ano de 1864, foi criado em um ambiente culto, sendo seu pai advogado e sua mãe de profunda erudição. Sua casa era frequentada por políticos e filósofos. Aos treze anos, ele já escrevia ensaios históricos.
A principal obra de Weber foi ?A ética protestante o espírito do capitalismo?, escrita a partir de 1904, Weber viaja aos Estados Unidos em 1905, onde recolhe material para a continuação da obra.
Weber busca através de algumas interpretações, analisar sociologicamente o capitalismo nos Estados Unidos, através da religião. Ele afirma que tanto o espírito do capitalismo quanto o espirito protestante, foram imprescindíveis para formar a sociedade ocidental.
A primeira interpretação de Weber seria de que o catolicismo não incentivava o capitalismo a se desenvolver, já que os valores sociais dos católicos se baseavam na partilha entre o grupo, se opondo ao individualismo. Todavia, para o sociólogo, o protestantismo (o calvinismo é o maior exemplo) era a realização da ação social racional, pois incentivava o trabalho, a individualidade, o acúmulo de riquezas. Riqueza era sinal de benção divina, ser um escolhido para a salvação. Valores que ajudavam no desenvolvimento das atividades capitalistas.
Sem a influência do protestantismo, Max Weber acredita que o capitalismo moderno seria diferente. Ele comparou com o desenvolvimento do capitalismo em países onde a religião era o budismo, judaísmo, hinduísmo e islamismo. Cada uma possuía uma ética econômica. Weber procura a interação do ser-humano com o meio social e natural através da interpretação das religiões.
Weber acreditava que a influência da religião poderia interferir na economia geral da sociedade, por isso ele dava prioridade em seus estudos à análise das religiões.
Max Weber não era crítico do sistema capitalista, ele acreditava que os empresários eram revolucionários que puderam intervir na história da sociedade de sua época. O capitalismo para ele, se desenvolvia pelos valores étnicos doutrinários da burguesia protestante, que buscavam lucrar e buscavam globalizar o capital.

Segundo o autor, a ética é o próprio exercício da dominação. Ela legitima o capitalismo, na aceitação ou permissão dos dominados. Weber demonstrou que tanto o capitalismo como a religião protestante impulsionam os indivíduos a aceitarem as regras do sistema de mercado.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A integração do negro na sociedade de classes no Brasil.

Nasceu em 1920 na cidade de São Paulo o sociólogo Florestan Fernandes, filho de mãe solteira analfabeta, não conheceu o pai. Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde veio a se formar em ciências sociais. Iniciou sua carreira docente em 1945 na própria USP. Em 1986 foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores, sendo grande defensor da educação pública e gratuita. Morre em 1995 com problemas hepáticos.
Em 1964, Florestan apresenta uma tese para o concurso da cátedra de sociologia na USP, intitulada como "A integração do negro na sociedade de classes". Nessa obra, ele escreve sobre a situação do negro comparada com o imigrante em São Paulo, onde o imigrante teve relativa aceitação e sucesso em sua incursão, já que vinham de países europeus modernos, onde já haviam se familiarizado com o sistema capitalista moderno de mercado. O negro por outro lado, recentemente abandonara o posto de escravo, mantido durante quatro séculos, e pouco acostumando com o novo ritmo e novas regras de trabalho, foi deixado de lado.
Segundo o sociólogo, o grande número de imigrantes que chegaram à capital paulista, representou um impacto demográfico e econômico que gerou desigualdades na estrutura social. A disputa do imigrante, que vinha habituado com o trabalho urbano e industrial, com o negro, fez com que o afrodescendente fosse deslocado para os setores menos favorecidos, ficando a cargo de trabalhos mais pesados e com menor remuneração.
Fernandes diz também que o negro teve dificuldades em se adaptar com o novo ritmo de trabalho. Eles recusavam certas tarefas e serviços, eram inconstantes na frequência ao trabalho, eles alternavam períodos de trabalho com fases mais ou menos longas de ócio. Situação de adaptação do negro com o trabalho livre, que por não possuir tempo hábil para se adequar ao novo sistema, foi tachado como "deficiências do negro".
Florestan também cita o problema da constituição familiar do negro, já que na sociedade de classes, a família sempre serve, direta ou indiretamente, de base à rápida ascensão econômica, social e política. E considera que outros grupos, definidos por ele como rústicos, também foram excluídos do processo de mudança socioeconômica brasileira.

O autor finaliza criticando a sociedade brasileira, por ter deixado os negros fazerem "justiça com as próprias mãos" ao invés de inseri-los, condenando o país ao insucesso das tentativas de democratização da sociedade.