quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Os Nuer - resenha crítica


Os Nuer são um povo que vive na África, perto do Egito. O antropólogo Evans Pritchard chegou à terra dos Nuer em princípios de 1930. Ele faz uma breve comparação dos Nuer com os Azande, onde relata que os Azande não permitiram viver como um deles. Já os Nuer não permitiram viver de outro modo que não o deles. Entre os Azande foi forçado a viver fora da comunidade, já com os Nuer foi forçado a fazer parte dela. Os Azande trataram-no como ser superior, e os Nuer como um igual.

O "chefe" é uma pessoa sagrada sem autoridade política. Na verdade os Nuer não tem governo e seu estado pode ser descrito como uma anarquia ordenada. Houve o surgimento de profetas, pessoas que abrigam os espíritos dos deuses do Céu, e sugerimos que, nelas, podemos perceber os primórdios do desenvolvimento político.

A maior parte de seu comportamento social se relaciona diretamente com seu gado. Seu idioma social é um idioma bovino. O leite e o sorgo são os principais alimentos dos Nuer. Eles não criam gado para corte, mas sacrifica-se carneiros e bois nas cerimônias. Muitos utensílios dométicos é fornecido pelo gado. Usam o esterco como combustível.

As meninas possuem suas tarefas nos estábulos e kraals, os meninos pastoreiam os bezerros no pasto. As mulheres são leiteiras e os homens boiadeiros. Como a maioria dos povos pastoris, os Nuer são poéticos. O relógio diário é o gado. A contagem do tempo é uma concepção da estrutura social.

As variações nas reservas de água e na vegetação forçam os Nuer a se mudarem e determinam a direção de tais mudanças. Eles não comem répteis, só crocodilos e tartarugas. Já as aves são vistas com desprezo e é vergonhoso comê-las. Quem come são os pobres, as crianças, e às escondidas no mato. Eles não comem ovos. Eles comem mel de abelhas em determinada época do ano. A pesca, caça e colheitas são ocupações da estação da seca, para complementar a dieta de leite insuficiente. Quanto maior o rebanho, menor a horta.

O comércio possui pouca importância entre os Nuer. Quanto mais simples for uma cultura material, mais numerosos são os relacionamentos que se expressam através dela. Uma pessoa não adquire mais objetos do que pode usar. Ele só disporia se fosse para dar de presente.

O sentimento de comunidade para os Nuer é mais profundo do que o reconhecimento da identidade cultural. Quanto menor o grupo, mais forte é o sentimento que une seus membros. As brigas e as disputas ocorrem entre as aldeias e seções tribais terciárias.

Há menos solidariedade, quanto mais amplo tornamos o círculo, de uma aldeia para as tribos adjacentes. As causas para um Nuer lutar: desentendimentos em relação a uma vaca; uma vaca ou cabra comer o sorgo de uma pessoa e esta bater naquela; um homem bater no filho pequeno de outro; adultério; direito sobre a água na estação da seca; direito sobre a água na estação da seca; direito sobre o pasto, entre outras.

Os meninos brigam com braceletes pontiagudos. Homens da mesma aldeia ou acampamento brigam com clavas, pois é convencional que as lanças não sejam empregadas entre vizinhos próximos, ou um deles poderia ser morto e a comunidade ficar dividida por uma vendeta. É também convencional que nenhum terceiro tome parte na briga. Uma vez começada a briga, nenhuma das partes pode desistir e são obrigadas a continuar até que uma delas fique seriamente ferida. Se uma pessoa for morta nessas lutas, começa-se uma vendeta.

Quando alguém mata alguém, essa pessoa corre para a casa do chefe da pele de leopardo, para limpar-se do sangue e ter refúgio contra a retaliação. Os parentes do morto tentam a todo custo vingar a morte do ente. Pelo refúgio o assassino presenteia o chefe com um novilho. O chefe é presenteado com cerveja quando vai na casa do queixoso. Esse chefe tem poder de purificar pessoas envolvidas em incesto, e possuem um ligeiro poder de provocar chuva.

Quando um homem fere outro com uma lança, as pessoas da aldeia enviam a lança para os parentes do ferido, para que eles a tratem com a mágica e evitem que a ferida seja fatal. Enviam um carneiro para sacrifício também. Um homem não deve lutar com outro homem de um conjunto mais velho.

Os Nuer não tem lei. Não há qualquer autoridade com poder para pronunciar sentenças ou para fazer cumprir vereditos. Não há lider, nem conselho da aldeia. É muito raro que um homem obtenha ressarcimento a não ser pela força ou pela ameaça de empregar a força. Roubar gado de tribos vizinhas não é considerado algo errado. A clava e a lança são as sanções dos direitos. Na guerra, o regimento segue o mais atrevido dos companheiros. Ninguém reconhece um superior. Um homem com muito gado é invejado, mas não tratado melhor que o que possui menos gado. A mais leve suspeita de uma ordem irrita a pessoa e ela, ou não a executa, ou a executa de um modo casual e demorado que é mais insultante que uma recusa.

Quando há adultério e os homens são consanguineos, o adúltero oferece um boi em sacrificio. Ele só paga indenização se for pego no ato. A fornicação é vista de forma branda, e o pagamento de um novilho geralmente não é feito. Se os parentes homens da moça sabem que ela está mantendo relações sexuais com um homem que possui gado e tem possibilidade de casar-se com ela, eles feham os olhos.

Mulheres e crianças tem sempre posição inferior à dos homens. A iniciação do homem quando passa da adolescência para a idade adulta ocorre da seguinte forma: sua testa é cortada até o osso com uma pequena faca (seis compridos cortes de orelha a orelha. As cicatrizes permanecem para vida toda e até depois da morte podem ser percebidas em seus crânios. O homem recebe de seu pai ou tio uma lança e torna-se guerreiro, ganha um boi, assume um "nome-de-gado" e torna-se um homem do rebanho. Daí para a frente, até ser marido e pai, seus interesses principais estão na dança e no amor.

Com os Nuer podemos perceber a possibilidade da sociedade humana adotar outros valores. Eles se tratam como seres iguais, vivem uma anarquia organizada, são unidos como comunidade. Vivem seus sentimentos livremente, com a preocupação mínima de uma ordem social. O desapego material também chama a atenção do estudande dos Nuer. Enfim, é importante estudarmos esse povo e pensarmos nossa sociedade ocidental capitalista de forma crítica e buscarmos solução para a mesma.

3 comentários:

Matheus Sousa Dafi disse...

A resenha estava muito boa até o último parágrafo. Não dá pra comparar uma pequena com uma sociedade com milhares de pessoas. Numa cidade com 20 milhões de pessoas, por exemplo, é impossível manter contato próximo com todos os 20 milhões ao mesmo tempo. Os nuer se comportam de maneira organizada, pois é altamente fácil de se organizar.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

foi de grande serventia a leitura do resumo. ficou bem legal