terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Diário de um Mago


Paulo Coelho, o escritor brasileiro mais lido, autor de dezenas de livros, traduzido em mais de cem línguas, integrante da Academia Brasileira de Letras, é o autor do Livro “Diário de um Mago” escrito em 1987. Homem admirado por seu conhecimento esotérico e experiências extra-sensoriais, reparte sua sabedoria através dos livros.
O livro narra a trajetória a pé de Paulo Coelho pelo “Caminho de Santiago”, que sai da França e chega em Santiago da Compostela na Espanha. A peregrinação durou vários dias e houve vários episódios misteriosos. O Guia de Paulo foi Petrus, um homem sábio que ajudou Paulo a enxergar respostas da vida de que ele precisava.
Em busca da espada que seu mestre no Brasil lhe dera, Paulo utilizou das Práticas de RAM. São elas:
  • O Exercício da Semente
  • O Exercício da Velocidade
  • O Exercício da Crueldade
  • O Ritual do Mensageiro
  • O Exercício da Água
  • O Ritual do Globo Azul
  • O Exercício do Enterrado Vivo
  • O Sopro de RAM
  • O Exercício das Sombras
  • O Exercício da Audição
  • O Exercício da Dança

Essas práticas são exercícios simples e complexos para alcançar o conhecimento, realizados separadamente com uma reflexão posterior.
Houve experiências com bruxo, demônios, padres, ermitão, monge, anjo da guarda, etc.
Alguns testes de paciência, aprendizados práticos, uso do dom de línguas, ida em casamento, visão, escalada na cachoeira, expulsão de demônios entre outras atividades marcaram a trajetória.
O Caminho de Santiago é um caminho de aprendizado, onde se aprende a ter equilíbrio espiritual, moral, físico e psicológico.
No fim, Paulo Coelho recebeu sua espada, como demonstração de mais uma barreira vencida no Aprendizado e a conquista do título de Mestre de RAM.
Um aprendizado que essa história nos deixa é que “as pessoas sempre chegam na hora exata nos lugares onde estão sendo esperadas”.
A mensagem do livro é a de que “um discípulo nunca pode imitar os passos de seu guia. Porque cada um tem uma maneira de ver a vida, de conviver com as dificuldades e com as conquistas. Ensinar é mostrar que é possível. Aprender é tornar possível a si mesmo.”

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Bruxas e bruxarias na Lagoa da Conceição – Florianópolis


Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, sul do Brasil é conhecido também como Ilha da Magia, por muitos de seus habitantes serem místicos e acreditarem em lendas de bruxas. Essa cultura da bruxaria vem de longa data e começou com a colonização açoriana (Ilha de Açores - Portugal) na ilha no século XVIII, herança da cultura europeia de tempos anteriores.
A bruxa seria a mulher da comunidade que se deixa levar por impulsos interiores inconscientes, que busca punir os que vivem perto por atitudes que a atingem de forma negativa. Toda mulher é uma bruxa em potencial. Ter um olhar ameaçador, um comportamento estranho, praticar cavalgadas noturnas (onde se amarram as crinas dos animais), quebranto, mal-olhado são comportamentos comuns às bruxas. A mulher derradeira é a sétima a nascer das irmãs, e se não for batizada pela irmã mais velha, pode virar bruxa.
Os principais alvos da bruxa são: a ex namorada do marido, as mulheres que andam sozinhas a noite no mato e vizinhos.
Essa cultura da bruxaria é uma cultura machista, visto que a bruxa é a mulher que desafia a autoridade masculina, à qual deve estar sempre subordinada.
As manifestações de bruxaria e feitiçaria ocorrem geralmente no âmbito doméstico e familiar, que são as fontes de poder feminino.
A benzedeira seria a mulher que atua contra as bruxas, com banhos, rezas e prescrição de tratamento contra a bruxaria. Ela é bem vista na maioria das vezes pela comunidade.
Por outro lado, quando houve visitações da Inquisição no Pará, a maior parte das mulheres acusadas de bruxaria eram curandeiras, rezadeiras ou parteiras. Isso deve ser pela desconfiança da igreja dessas mulheres poderosas e influentes, que todos na comunidade “ouvem”.
Alguns procedimentos contra embruxamento realizado pelas benzedeiras seriam:
  • prevenção de embruxamento na criança recém-nascida: colocar na água no primeiro banho, a erva de são francisco e depois jogar essa água num córrego que corra em direção ao mar (ou à lagoa), enquanto recita uma reza.
  • colocar sob o travesseiro ou o colchão em que dorme a criança uma tesoura aberta em forma de cruz e algumas ervas espalhadas
  • Deixar a chave torcida na fechadura, para impedir que ela entre,
  • contra bruxas, feitiços e maus-olhados: espalhar alho pela casa
Em muitas sociedades, o curador, a pessoa que tem o poder de afastar doenças, desordens e os mal-estares, é também a pessoa que pode causar tudo isso. Ele é respeitado e temido ao mesmo tempo.
Existe uma leve menção à relação da bruxa com demônios, mas é mínima em relação à experiência européia na Santa Inquisição. Hoje existe uma mistura de crenças, influências de vários povos que vieram para habitar a ilha.
A diferença da feiticeira para a bruxa, do ponto de vista mané (manezinho da ilha: habitante nativo da ilha), é que a feiticeira faz uso de procedimentos externos, como a fabricação de poções e remédios.
Quando uma ideia é compartilhada por um grupo de pessoas, isso se torna uma realidade social. Desejar o mal com muita vontade, assim como desejar o bem à alguém influencia a vida das pessoas. Até os dias atuais, pouco foi descoberto sobre a mente humana.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Carlos Castañeda: o mito


O antropólogo mais famoso dos anos 1960 é indispensável na leitura de todo aquele que se diz alternativo e de vanguarda, mente aberta e evoluída. Castañeda fez seu PhD na Universidade da Califórnia (UCLA) e sua tese defendida com êxito se transformou em um livro: “A Erva do Diabo (do original em inglês: The Teachings of Don Juan).
A saga de Castañeda com Don Juan, o mestre feiticeiro (brujo) se extende em 5 livros sendo eles: A Erva do Diabo, Uma estranha realidade, Viagem a Ixtlan, O segundo círculo do poder e Porta para o infinito. Nesses livros Carlos narra a experiência de pesquisa (etnografia) e aprendizado com um indío Yaqui no México, onde eles passam cinco anos juntos na condição de mestre e aluno. No princípio Castañeda só estava interessado no uso do Peyote, da datura e de certos cogumelos entre os yaquis. Essas e outras plantas alucinógenas abriram para o autor as portas da percepção, o iniciaram na conscientização e domínio da realidade extraordinária, que foge dos limites e conceitos da civilização ocidental. Daí ele passa a viver uma jornada espiritual, estranha e às vezes apavorante, cheia de visões, percepções extra-sensoriais; jornada esta que um homem deve empreender para tornar-se um “homem de conhecimento”.
Carlos e Don Juan partilharam de experiências psicodélicas e alucinógenas com plantas, usadas em rituais indígenas. Em uma dessas experiências Castañeda fez uma previsão de futuro, onde ele vê uma ladra de livros. Essa experiência ajudou a UCLA a resolver o mistério do roubo, fato registrado como verídico. Carlos aos poucos vai se desapegando dos conceitos de vida e mundo ocidental e vai entrando de cabeça no mundo da feitiçaria, realizando ao fim grandes prodígios como levitar, se transformar em pássaro, teletransportar-se, entre outros. Ele aprende a comer e até mesmo andar de forma diferente, mais eficiente.
Em seus últimos livros Castañeda narra experiências com outros bruxos e bruxas, onde compartilham de conhecimentos e ideias similares. Ele trabalha a ideia original de Nagual e Tonal (as duas dimensões que influenciam a vida do homem). As formas de enxergar e lidar com o “Aliado” também são exploradas.
Anos depois da coleção de livros, Castañeda faz carreira em Los Angeles como professor de danças xamânicas, danças energizantes que aprendeu com Don Juan. Casa-se com uma filha adotiva bem mais nova que ele e outra discípula dele, conhecidas carinhosamente com “irmãzinhas”. Dizem que quando Carlos morreu, suas duas mulheres e discípulas se mataram, por não terem mais alegria em viver sem ele. Sua ex-esposa (mãe do filho dele) e eterna apaixonada, chora sua morte.
Castañeda ficou milionário logo com o lançamento de seu primeiro livro em 1968, ano em que o movimento hippie se alastrava pelos Estados Unidos e mundo. Muitos leitores cruzavam a fronteira com o México procurando Don Juan, ou alguma experiência parecida com xamanismo e plantas alucinógenas, já que estavam desacreditados de toda a estrutura da civilização ocidental que já provava ser fracassada.
Até que ponto estava Carlos Castañeda certo?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tropicália


Quando falamos em Tropicália não podemos deixar de citar Caetano Veloso, baiano nascido em lar de classe média que se formou na Universidade Federal da Bahia em filosofia e que recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFBA pela “grandiosidade de sua obra e sua renomada sabedoria”.
A tropicália surgiu no final da década de 1960 como crítica aos fracassados projetos políticos e culturais do passado, foi também uma celebração exuberante, apesar de muitas vezes irônica, da cultura brasileira e suas contínuas permutações.
Roberto Schwarz foi o primeiro crítico, trabalhando na tradição marxista, a apontar a natureza alegórica da Tropicália, de forma a transmitir as disjunções do desenvolvimento capitalista no Brasil.
Outros nomes do movimento são: Augusto de Campos, Oswald de Andrade, Tom Zé, Gilberto Gil, Maria Betânia, Gal Costa, Roberto Carlos, Chico Buarque , Moraes Moreira, Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Paulinho boca de Cantor, Baby Consuelo, Raul Seixas .
Oswald de Andrade escreveu o “Manifesto Pau-Brasil” (1924) , onde ele exortava os colegas a criar uma “ poesia de exportação”, onde nossa literatura não seria como as correntes lietrárias dos países dominantes, mas também não as ignoraria. Escreveu também “Manifesto Antropofágico” (1928), onde ele dá a ideia de “devorar” de maneira crítica as manifestações culturais vindas do exterior. Quarenta anos mais tarde, Caetano disse que a Tropicália foi uma forma de “neo-antropofagismo”.
Gilberto Gil se graduou em Administração de Empresas na UFBA e trabalhou na Gessy Lever do Brasil. Do grupo baiano, ele era o mais envolvido com música de protesto, e mais tarde com a contracultura.
Muitos brasileiros naquela época associavam o rock ao imperialismo cultural dos Estados Unidos e defendiam a MPB como expressão musical mais adequada da modernidade brasileira.
A música brasileira tem sido o ramo menos colonizado e mais africanizado da cultura popular brasileira, além de ser a mais bem-sucedida em sua disseminação não apenas no Brasil, mas também ao redor do mundo.
Fatos importantes da Tropicália:
  • Fundação do Centro Popular de Cultura (1962) sob a égide da União Nacional dos Estudantes
  • O golpe de 1 de abril de 1964 (regime militar autoritário e pró-capitalista)
  • A apresentação do “som universal” transmitido pela televisão em 1967
  • O filme de Glauber Rocha: Terra em transe (1967)
  • O filme Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade
  • Os festivais de música televisionados
  • O rei da vela de Zé Celso
  • Seja marginal, seja herói de Hélio Oiticica (1968)
  • Tributo a Che Guevara em “Soy loco por tí, América”
  • Apresentação de “É proibido proibir” de Caetano no FIC pela TV Globo (1968)
  • “Caminhando” de Geraldo Vandré
  • Boicote ao III FIC (TV Globo) e shows no Sucata
  • Prisão de Caetano e Gil e exílio em Londres por 2 anos e meio (1968).
  • Gilberto Gil preso em Florianópolis por porte de maconha.

O cineasta Luis Carlos Barreto ao ouvir uma das composições sem título de Caetano em 1967, detectou afinidades com uma instalação chamada Tropicália, do artista visual Hélio Oiticica. Daí surgiu o nome.
O papel do rádio e início da televisão no Brasil ajudou muito na disseminação da Tropicália.
Muitos dos artistas envolvidos no movimento pensavam simultaneamente em progresso na carreira, ativismo político e inovação formal.
As transformações políticas e sociais só poderiam vir com uma mudança revolucionária na mentalidade do povo, e a cultura popular seria o veículo para essa luta.
Com o regime militar nasceu a TV Globo e houve um desenvolvimento muito grande na tecnologia da indústria de comunicação comparado ao desenvolvimento social.
O regime militar buscava representar o Brasil como um “jardim” pacífico, apesar de ter suprimido brutalmente a oposição.
Os principais músicos do rock brasileiro vinham de famílias de classe operária e poucos tinham nível universitário.
Sartre escreveu: “ o 'verdadeiro intelectual' é aquele que resiste às algemas do humanismo universalista burguês, reconhece a própria posição na estrutura de classes e decide servir às classes exploradas, ajudando-as a desenvolver um 'conhecimento prático do mundo para mudá-lo'”.
Em 1968 Gil vestia túnicas de cores vivas e jaquetas de couro (estilo Black Panther), Caetano usava ternos de plástico futuristas, com gravatas primitivas feitas de dentes de jacaré, Tom Zé e Gal usavam roupas que lembravam os hippies de São Francisco.
No final do movimento, os tropicalistas também começaram a adotar os movimentos internacionais de contracultura. A Tropicália foi o principal ponto de referência para a contracultura brasileira, no início dos anos 1970.
Os Novos Baianos desenvolveram um som diferente, que foi descrito como “um encontro do carnaval baiano com Woodstock”. Eles moravam em uma comunidade alterntiva semi-rural no Rio de Janeiro.
O grupo Doces Bárbaros, juntava a cosmologia do candomblé com a astrologia. Eles não tinham interesse em discutir leis, moral, religião, política ou estética. Buscavam irradiar “ uma imensa carga de luz de vida” em cada cidade que “invadiam”.
A Tropicália ajudou uma geração que atingiu a maturidade em tempos escuros, a definir as prioridades políticas, culturais e sociais do Brasil.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Contracultura no Brasil


O movimento de contracultura no Brasil foi muito importante para uma transformação social do país, onde passamos a compartilhar de muitas ideias, autores e músicas internacionais.
Segundo Luís Carlos Maciel, pode-se entender contracultura, a palavra, de duas maneiras: como um fenômeno histórico concreto e particular, cuja origem pode ser localizada nos anos 60; e como uma postura, ou até uma posição, em face da cultura convencional, de crítica radical. No primeiro sentido, a contracultura não é, só foi; no segundo, foi, é e certamente será.
Houve uma influência da juventude norte-americana e europeia no Brasil na década de 60 com relação às guerras, um movimento anti-guerra, que questionava a ordem sócio-econômica mundial, que questionava o establishment. Havia descontentamento com os “benefícios” da sociedade industrial, e com isso reivindicações em torno dos direitos civis. Havia uma agitação, esperança e inovação nas formas de luta política em todo o globo: a Revolução Cultural Chinesa, a resistência popular vietnamita à agressão armada dos Estados Unidos e a guerrilha de Guevara na Bolívia. Houve também três assassinatos políticos importantes: John e Bob Kennedy e Martin Luther King. A luta antiimperialista era uma esperança de dias melhores. Maciel diz que o inconformismo era existencial. O protesto estudantil no Brasil foi a primeira voz a se erguer contra a ditadura militar. Os estudantes perceberam que é preciso manter o poder sob contestação permanente, a ser exercida, não pela oposição oficial, mas por todos os seguimentos da sociedade.
Com esse movimento houve a divulgação do rock feito por jovens para jovens, canções de protesto e posteriormente a criação de novos sons brasileiros, uma mescla do nacional com o internacional, o chamado Tropicalismo.
Nietzsche escreve que “novas culturas nascem sempre como música e como poesia”.
O som dos Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Joan Baez, Jimmi Hendrix, Janis Joplin embalavam a vida da juventude da época, no Brasil Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Betânia, Os Novos Baianos, Tom Zé criavam o novo som brasileiro.
Os festivais marcaram presença no movimento de contracultura: monterrey, woodstock, Ilha de Wight e de Águas Claras no Brasil.
Marx, Sartre eram discutidos e influenciavam músicas, livros, a universidade.
O movimento hippie foi adotado pelos brasileiros, pregando o desapego material, o amor livre, o artesanato, a legalização da maconha, a desconfiança dos médicos ligados ao establishment, o êxodo urbano ( a volta à natureza). Julgando-se impotente para transformar o sistema, o hippie se auto-transforma, animado pelo projeto novo de ser feliz, a despeito e à margem do sistema. O misticismo irracionalista, filosofia oriental, astrologia, especulação metafísica, parapsicologia, zen-budismo, realismo mágico, discos voadores, macumba, espiritismo foram transformados nas principais disciplinas da academia do underground. Eles queriam ver Deus. Criou-se a expressão “careta”: pessoa que não é livre, não assume a responsabilidade da própria existência e prefere deixar-se conduzir com o resto da manada.
As drogas também vieram junto, o LSD era o alucinógeno responsável pelas grandes “viagens” daquele momento, até mesmo os Beatles fizeram uma música em homenagem à droga (Lucy in the sky with diamonds). O psicodelismo foi defendido quase como uma religião, onde pregava-se a utilização de drogas alucinógenas para 'expandir ou alargar a consciência”. Aldous huxley, Thimothy Leary, Richard Alpert, William Hitchcock foram alguns dos defensores.
Os yippies (junção dos hippies com a nova esquerda) queriam o “céu agora”, não como os cristãos que esperam pelo paraíso só depois de mortos. Tinham o seguinte slogan: “nunca confie em ninguém com mais de trinta anos”. Usavam cabelos compridos, por eles comunicarem desrespeito pela América: uma sociedade racista, de cabelo curto, é incomodada pelo cabelo comprido.
Nos anos 60 a sociedade brasileira acordou para a verdade que “a única religião que pode ser considerada autêntica é aquela que cada um cria para si próprio. As instituições religiosas desvirtuam o seu propósito original; as igrejas organizadas são a própria negação do sentimento religioso vivo.
Por mais intensas e dolorosas que foram algumas experiências nessa época, com certeza valeram a pena pelo legado que deixaram. Viva a liberdade!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A hipocrisia das universidades


Quando realizamos o estudo superior, nos graduando na universidade, passamos a admirar os grandes pensadores das ciências estudadas. Passamos quatro anos ou mais lendo suas obras e ouvindo críticas e elogios dos professores quanto aos textos. Pensamos em quão inalcansável é o posto destes doutores, pois é necessário muito estudo, pesquisa e idéias geniais nunca pensadas antes, certo? Errado. Depois que nos graduamos e consideramos avançar nos estudos através do mestrado e doutorado, percebemos a pobreza de espírito que esses “doutores” possuem.
Não há generalização, existem algumas excessões, como sempre. Entretanto não podemos fechar os olhos diante de um grupo de pessoas que se fecham em pequenos grupos dentro das universidades públicas, onde existe um ciclo ridículo que utiliza do dinheiro público para se sustentar. Um ciclo onde o bolsista explorado e mal remunerado, passa a ganhar menos mal, continua sendo explorado em troca de um título de mestre e posteriormente de doutor. Não há abertura para quem é estranho, não há oportunidade para quem quer estudar, obter conhecimento.
A universidade está se transformando num reflexo de Brasília, em pequena escala, onde a politicagem chega a patamares inimagináveis. Pior ainda é quando se trata das ciências humanas, ciências não exatas, onde a avaliação do professor segue critérios questionáveis, onde muitas vezes o afeto pessoal toma o lugar da avaliação justa sem ver a quem se avalia. Isso é a degradação das ceências humanas no Brasil, isso em nada contribui para a melhoria do país, da comunidade.
Existem muitas mentes brilhantes que nem sequer terão a oportunidade de seguirem a vida acadêmica por causa do protecionismo de professores idiotas, que usam o dinheiro público para seu belprazer. Essa injustiça tem que acabar.
Terrível é imaginar quantas estagiárias têm de se prostituir pra ter uma bolsa miserável, ou conseguir entrar em um mestrado. Isso é nojento! Logo em um meio tão culto, onde as pessoas deveriam por em prática o mínimo de ética que ensinam.
Opinião? Os alunos de humanas não sabem o que é isso. Quem vai falar mal dos métodos de ensino do professor que te avaliará na próxima prova ou seleção do mestrado? Vive-se uma tortura psicológica durante quatro anos na universidade. Exagero? Procure saber se aquele colega questionador e crítico se formou. Pouco provável.
Que tipo de acadêmicos o Brasil está formando? Um bando de puxa-sacos e prostituídos? Gente sem capacidade, com didática arcaica, com pouca ou nenhuma vontade de dar aula ou resolver problemas que assolam o país hoje, nesse momento. Com olhos apenas para a remuneração.
Penso que a universidade serve pra isso: melhorar a vida dos cidadãos do país, trazer desenvolvimento sustentável, tecnologia, qualidade de vida para a população. Mas não é isso que estamos vendo. Podemos melhorar muito como país e como universidade. Vamos tirar a bunda da cadeira, vamos agir, pra melhorar a vida de toda a sociedade. Vamos por em prática a teoria! De nada vale nos trancar numa sala de aula e discutir teorias, se nunca forem postas em prática. Chega de hipocrisia.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande


Os Azande são uma tribo africana que foi estudada pelo antropólogo Evans-Pritchard em fins da década de 1920. Ele focou sua etnografia na bruxaria, adivinhação, magia e o uso de plantas alucinógenas entre esse povo.
A noção de bruxaria entre os Azande é mais ligada ao medo de pessoas poderosas, e de adivinhos que supostamente desejariam seu mal, lançando uma bruxaria para essa pessoa ou familiares, no Brasil também conhecido como “mal olhado”. Os infortúnios que ocorrem entre eles geralmente são ligados à essas palavra. E são acusados os ditos bruxos, que são julgados pelos oráculos através do uso de “benge”, um veneno em que as chances das aves que o ingeriram sobreviverem ou morrerem é de 50 por cento. Ou seja, se a ave morre o acusado pode ser ou não bruxo “de fato”. Antes da invasão branca o oráculo de veneno foi utilizado pelo príncipe da nação Zande em homens, aos poucos foi transferida essa responsabilidade para as aves. Muitas outras decisões importantes na comunidade são tomadas através da consulta aos oráculos.
Os Azande afirmam que todo bruxo tem uma “substância bruxaria” junto ao seu intestino, e quando matam o bruxo, eles tem que abrir o morto e mostrar a substância para provar a veracidade da acusação.
Interessante notar que Evans-Pritchard teve uma experiência real com a bruxaria. Ele saiu de sua cabana e foi no mato urinar e viu a bruxaria. Como os azande descrevem-na ela é como uma luz que sai do bruxo e vai até a pessoa afetada. Ele relata em sua obra, que viu com seus próprios olhos a bruxaria aquela noite.
Os azandes utilizam plantas alucinógenas em suas magias para variados fins, geralmente eles pedem para as plantas intercederem por eles com relação às forças da natureza (ex. para evitar que a chuva caia), à agricultura (ex. fecundidade de plantas alimentícias), à caça, pesca e coleta (ex. Benzer armadilhas e laços), à artes e ofícios (ex. Fundição de metal), aos poderes místicos (ex. Contra bruxos e feiticeiros), à atividades sociais (ex. obter esposa) e à doença (cada doença possui uma planta apropriada ao seu tratamento).
Muito interessante o relato de acompanhamento de um treinamento de um noviço na arte da adivinhação.
Existe algo neste livro de similar aos relatos de Carlos Castañeda na sua experiência com o feiticeiro Yaqui, Dom Juan. Favret Saada descreve esse tipo de etnografia como “ser afetado” pela cultura do povo estudado. Vivenciar e sentir o que eles sentem.
Seria tudo uma questão psicológica? A realidade, apenas um momento, num determinado local com determinadas pessoas?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

As primeiras religiões


Quando se estuda religiões primitivas, percebe-se que a simplicidade facilita a compreensão das formas elementares da vida religiosa. Émile Durkheim dedicou um livro somente para esse assunto, e entre outros sociólogos e filósofos, trouxe uma lógica bem interessante sobre as religiões.
Dentre as instituições que formam a cultura humana se encontra a religião. Crer é individual, porém realizar cerimônias públicas, criar vínculo com a rotina do grupo, é totalmente de caráter social. A religião é uma importante peça da sociedade humana e está interligada à outras instituições de homens.
O naturismo e o animismo são as duas religiões mais simples que existem. A partir delas que surgiram outras religiões, que foram se misturando e se tornando complexas.
O naturismo é culto à natureza, a divinização dos animais, das plantas, da água, da terra, do sol, da lua, dos ventos, das chuvas, etc. Nada mais lógico que dar uma extrema importância para esses elementos de que depende a vida humana. O sol faz brotar a planta que dá seu fruto para nos alimentar, a chuva a faz crescer, a lua influencia a pesca e as marés, a água pura nos mata a sede.
Existe algo mais amedrontador que uma tempestade ou terremotos, maremotos?
Essa dependência e temerosidade explica porquê o naturismo ainda é cultuado por muitas pessoas.
No naturismo não se distingue ao certo o profano do sagrado, o que torna mais óbvio que a junção dos dois é que constrói o todo, que deve haver o equilíbrio, que a morte é só o outro lado da moeda da vida.
O respeito pela natureza e o contato íntimo com ela nos abre os olhos para a vida e para nós mesmos.
O animismo é a crença em seres espirituais, almas, demônios, divindades propriamente ditas, agentes animados e que possuem consciência como o homem mas que se diferenciam pela natureza corpórea e dos poderes. Esses espíritos geralmente não são perceptíveis aos olhos humanos.
A alma não é um espírito. Não é objeto de culto. O animismo diz que a alma do homem tem vida própria, que ela pode sair do corpo e divagar sem a ajuda do corpo animal. Essa ideia surgiu pelas experiências vívidas que se têm ao sonhar. Acredita-se que os sonhos são experiências reais e que o “duplo”, o “outro eu” que é a alma, realmente esteve naqueles lugares e viveu aquela situação.
O culto às almas dos mortos só se dá posteriormente, e configura outra religião.
Quando nosso estudo se concentra no início das religiões, percebemos melhor como a fantasia trabalha na mente humana e a leva a se adaptar conforme a sua realidade. Mesmo a ciência como a entendemos hoje, é uma religião. Uma linguagem, uma forma de explicar as coisas desse planeta, da nossa vida. A caminhada continua, porque muita coisa ainda não deixou de ser mistério.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Martelo das Feiticeiras


O livro "O Martelo das Feiticeiras", também conhecido internacionalmente como "Malleus Maleficarum" foi escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger. Foi um dos mais importantes depositários das leis que vigoravam no Estado Teocrático. Era o livro usado como manual para o julgamento, tortura e morte das bruxas na Europa.
Ao longo de suas mais de 500 páginas percebemos que por medo da superioridade feminina, houve uma tentativa (bem sucedida) de sabotar as mulheres e as religiões que as favoreciam. Assim, as mulheres poderosas eram perseguidas.
Neste livro, a filosofia cristã é distorcida e o foco sobre a "Eva pecadora", a "Costela torta de Adão" cria um sentimento e menosprezo pela natureza feminina que é predisposta para o pecado, curiosa para as coisas do demônio como a cobiça, a vaidade, entre outros pecados.
Algumas características marcam a maioria das bruxas: elas voam cavalgando em demônios, elas praguejam abertamente contra pessoas, elas são temidas por seus poderes que seriam o de fazer chover ou o inverso, matar gado, adoecer as pessoas... Elas não frequentam a missa, transam com demônios, deixam os homens impotentes, se teletransportam, transformam os homens em bestas, roubam crianças e as cozinham num caldeirão para produção de uma pasta mágica, etc.
Detalhes sobre cada feitiço ou sua relação com Satanás, Lúcifer é descrito no livro.
É interessante notar que o texto abre algumas brechas para que o leitor veja erros dentro da organização eclesiástica, erros absurdos como bispos que possuem amantes bruxas e outros abusos cometidos pelos homens com as mulheres e que são acobertados pela Igreja Apostólica Romana.
A Demonologia é criada a partir do Malleus Maleficarum, onde é teorizado o papel dos anjos, assim como seus poderes e sua relação com Deus. Os teólogos escrevem sobre a natureza corpórea dos anjos, como eles fazem barulho mesmo não tendo pulmões, etc.
Algumas características das bruxas são comuns em culturas diferentes, porém o foco é colocado de forma diferente dependendo do olhar de quem escreve. Tudo é uma questão de ponto de vista.
O que não podemos ignorar são os pontos em comum.
O Malleus Maleficarum foi aprovado pelo corpo docente da Universidade de Colônia. O que prova que mesmo o dito conhecimento científico pode estar equivocado. É um ponto de vista.
Por isso a conclusão é: as bruxas existem.
E as perguntas que não querem calar: quem são elas? O que realmente podem fazer de extraordinário? Com qual intenção?
Obrigado.
Dom  

sábado, 26 de maio de 2012

Hippie Chique


Termo utilizado atualmente pela juventude para se referir às pessoas que são tidas como hippies, que se vestem de forma mais “largada”, com calças e camisetas coloridas, geralmente manufaturadas, usam colares de sementes, pulseiras e acessórios feitos por hippies artesãos. Geralmente fumam maconha e gostam de LCD, ás vezes de outras drogas também. São despreocupados com o futuro e geralmente têm a mente mais aberta que as pessoas comuns. Pensa-se que são destituídos de preconceito. Gostam de natureza, matas, cachoeiras e se preocupam com a preservação das mesmas. Gostam de viajar e de se mudar, têm desapego material. Vivem de artesanatos e da música em sua maioria. Gostam de Rock, reggae e samba de raiz. Deixam a barba crescer, o cabelo crescer. Mas isso é o que já sabemos sobre os hippies. O diferencial do hippie chique pro convencional é que geralmente os chiques vêm de um lar abastado, possui herança, é sustentado ou teve oportunidades que os outros hippies não tiveram.
Em seus primórdios os hippies eram chiques em sua maioria, filhos de famílias de classe média. O movimento veio justamente pra questionar o rumo que a sociedade capitalista estava levando. O filho abandonar a casa, a oportunidade de continuar com a empresa ou o emprego do pai pra ir viver no mato com amigos pouco preocupados com o lucro, com o enriquecimento, deixava os pais de “cabelo em pé”.
Por ser chique o hippie não deve se sentir intimidado, o importante é a filosofia de vida, a busca por uma sociedade mais justa, um convívio mais saudável e mais equilibrado visando sempre a paz e o amor. Mesmo parecendo piada para muitos a existência do chamado hippie chique, é um caminho bom para se seguir, a partir de quando percebemos que a verdadeira pobreza é a pobreza de espírito, a pessoa ser vazia, sem amigos, sem amor, preocupada em apenas ter dinheiro pra tentar comprar tudo e todos.
Ser hippie chique ou hippie limpinho é um risco, deve-se ter muito cuidado com o apego material, o amor pelo dinheiro, a tendência individualista e egoísta da sociedade capitalista. Mas se for sábio para lidar com a questão e ter um pouco de preocupação com a higiene sem muita vaidade, está perfeito.
Viva o movimento hippie!

sábado, 14 de abril de 2012

Cultura Alternativa: definição

O conceito de “cultura alternativa” que trazemos é a reunião de toda música, texto, vídeo, costume ou outra forma de expressar uma filosofia, ponto de vista que faz oposição à ideia convencional de cultura da grande maioria dos brasileiros, cristãos e capitalistas.
Cultura alternativa é a cultura rara, bem argumentada, vivida pela minoria e que é muitas vezes vista com maus olhos, seja por ignorância ou por preconceito. Essa cultura é marginalizada muitas vezes, sobrevivendo nas favelas, bares e vida noturna, onde pode ser censurada à muitos.
A luta pela divulgação da cultura alternativa não é de hoje, muitos até preferem mantê-la na marginalidade, já que a popularização da cultura muitas vezes a polui, a distorce.
Os movimentos de esquerda, os protestos, a oposição, as alternativas ao convencional tudo isso é cultura alternativa. O movimento hippie, a Tropicália, o socialismo, a vida simples em meio à natureza, a fitoterapia, a medicina oriental, o rock, o reggae são exemplos de culturas alternativas, culturas essas que são praticadas em meio à nossa comunidade ou em comunidades alternativas.
Certas pessoas odeiam tanto a cultura convencional, que acabam por negá-la e buscam viver da sua forma com pessoas que compartilham as mesmas idéias em lugares onde poderão sociabilizar do seu jeito e em paz.
Ser conivente com uma sociedade onde impera a injustiça, a mentira, onde a miséria e a exploração do mais fraco é vista como necessária, é ser doente, como a própria sociedade. Ser alternativo à essa filosofia com certeza é o sinal mais óbvio de sanidade mental.
Viva a cultura alternativa!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Com os olhos no prato

Havia anos que Carlos planejava fazer uma cirurgia nos olhos, porém como todo filho de deus estava preocupado com sua saúde e sobre o andamento da dita cirurgia, já que quando criança lhe colocaram medo sobre o assunto.

Carlos tinha 11 ou 12 anos de idade no máximo e foi com seus pais na consulta no Hospital Evangélico, que aliás pertencia à igreja na qual sua família comungava. Consultou com um oftamologista amigo da família, o doutor Mário: um senhor tradicionalista, acomodado em sua condição de somente realizar consultas, pois tinha pavor de cirurgias.

Pareceu à Carlos que a opinião do doutor Mário sobre seu interesse de realizar a cirurgia muito tinha de pessoal, e que seu maior interesse era agradar seus pais. "Filho, é uma cirurgia delicada que pode piorar algo que está bom, é um pequeno detalhe que não mudará sua vida em nada", disse. Depois Carlos descobriu que doutor Mário trocava cheques com seu pai, além de ser viciado em masturbar-se.

Doutor Mário não tinha idéia de como era viver com esse problema de nascença, e Carlos lutava consigo mesmo sobre a decisão de fazer a intervenção cirúrgica, e nisso se passaram 15 anos.

A tecnologia havia avançado muito desde 1998 e agora haviam vários especialistas nesse tipo de cirurgia. Devia ter uma demanda grande e podia-se perceber que esse tipo de "negócio" era bem lucrativo, visto o luxo dos consultórios dos especialistas e suas agendas lotadíssimas. Depois de muito ler e conversar com médicos especialistas, Carlos conseguiu por fim achar uma médica de confiança que pudesse fazer a cirurgia.

Passou por outros médicos, dentre dos quais uns bem pilantras. Uma médica chegou ao ponto de destruir sua tentativa de fazer a cirurgia pelo plano de saúde, pois ela queria fazer no particular. Pra isso a safada tinha espaço na agenda.

Depois de muitas consultas e opiniões diversas entre os amigos, Carlos se preparou e foi para a clínica. Tinha a preocupação de continuar a viver sua vida de boêmio, por isso fez questão de confirmar com a doutora Clara se podia continuar fumando seus seis baseados de maconha diários, continuar com suas bebedeiras de fim de semana e suas transas selvagens, como ele gostava e fazia questão. Só a bebida que não podia ser ingerida enquanto tomesse os antibióticos. E assim foi.

Na sala cirúrgica havia uma equipe só de mulheres, o único homem que apareceu depois foi o anestesista, o doutor Pablo. Homem esquisito, que tinha conversado dias antes e que se interessou muito sobre a sálvia divinorum quando Carlos perguntou sobre se podia fazer uso, já que Pablo o advertiu sobre as substâncias que não deveriam ser usadas antes da cirurgia. Tinha um cavanhaque comprido demais para um médico de cidade de interior, além disse usava uns colares que seu pai dizia ser de uso de maloqueiros. Tempos depois Carlos concluiu sorrindo consigo mesmo, que a cara de louco não podia combinar mais com a profissão de doutor Pablo. Que tipo de gente quer se especializar em dopar os outros com drogas fortíssimas?

Carlos estava nervoso, já com as mangueiras enfiadas em suas veias, acompanhando seus batimentos cardíacos pelo monitor, deitado na maca na posição em que Jesus Cristo morreu na cruz. As enfermeiras usavam tocas coloridas, com estampas de desenhos animados infantis, e conversavam despreocupadas, como num passeio com suas amigas. Apesar disso ele sentia uma segurança que mesmo que não tivesse, se obrigaria a ter. Afinal, não ia morrer por falta de fé. Seria como desistir da vida. Uma grande fraquesa.

Nessa hora sensível, quis acreditar que o cardiologista fanfarrão que tinha feito o exame de risco cirúrgico estivesse certo ao lhe dar o aval para a cirurgia. O senhor nordestino já com seus mais de 60 anos falou umas três vezes em sexo e putaria nos apenas 30 minutos de exame. "Meu deus! Quantos médicos tarados não tem por aí? Coitadas de nossas mulheres!", pensou.

Tomou o sedativo e desmaiou num sono profundo e sem sonho. Derrepente algo o incomodou muito: sentia que arrancavam algo de dentro da sua garganta. Era a o aparelho pra respiração, no que tiravam, arranhou a garganta e seu instinto de sobrevivência falou mais alto que o poder da anestesia. Levantou-se de supetão, com um urro de lobisomem, se ergueu na maca e logo correram as enfermeiras para lhe controlar e voltar a sedá-lo. Essa é a lembrança que Carlos tem da realização da cirurgia. Após o ocorrido, em suas meditações solitárias pensou: "Ainda bem que isso não aconteceu na hora mais sensível, quando possivelmente a equipe feminina se divertia com seus olhos que deviam estar num prato, para facilitar o trabalho".